Os Tigres de Mompracem


Livros da Ilha
divisão infanto-juvenil
Copyright © 2008 desta edição e tradução
Editora Iluminuras Ltda.
Capa e projeto gráfico
Michaella Pivetti
Ilustrações
Carlo Linzaghi
da primeira edição (1900)
(As ilustrações foram reproduzidas por cortesia do Assessoramento
de atividades culturais da província autonoma de Trento.)
Revisão
Ariadne Escobar Branco
Virgínia Arêas Peixoto
Conversão Digital: e-FICÇÕES
[email protected]
(Este livro segue as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Salgari, Emilio
Os tigres de Mompracem / Emilio Salgari ;
tradução Maiza Rocha. — São Paulo :
Iluminuras, 2008.
Título original: Le tigri di Monpracem.
ISBN 978-85-7321-434-5
1. Literatura infantojuvenil I. Título.
08-03613 | CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 028.5
2013
EDITORA ILUMINURAS LTDA.
Rua Inácio Pereira da Rocha, 389 - 05432-011 - São Paulo - SP - Brasil
Tel.: (11) 3031-6161 / Fax: (11) 3031-4989
[email protected]
www.iluminuras.com.br
Apresentação
Regina Rocha e Maiza Rocha
Escrever é viajar sem o aborrecimento da bagagem.
Emilio Salgari
A unificação da Itália, apesar de representar uma importante luta histórica ao longo do século XIX, não conseguiu criar imediatamente uma identidade cultural do povo italiano. Além das diferenças de caráter histórico, linguístico e social, a desigualdade do desenvolvimento econômico observado nas regiões norte e sul foi outro entrave na consolidação do país.
A popularização de livros e revistas, até então acessíveis apenas à elite, propagou os ideais nacionalistas entre a população. Grupos de ativistas republicanos, com o objetivo de resgatar o passado nacional e colocá-lo em evidência para o maior número possível de pessoas, a fim de estabelecer o desenvolvimento da consciência de sua história, divulgavam os princípios do nacionalismo através de publicações.
É neste contexto que nasce Emilio Salgari, em Verona, no dia 21 de agosto de 1862, em uma família de comerciantes modestos. Seu tio, um marinheiro dálmata que gostava de narrar aventuras e histórias do mar e de piratas, despertou no sobrinho o entusiasmo e a curiosidade pelas viagens e pelos lugares exóticos da Terra. Além disso, Salgari passou grande parte da juventude lendo os romances de aventuras de Thomas Mayne-Reid, Gustave Aimard e James Fenimore Cooper. Logo percebeu que também queria ser um escritor de histórias emocionantes como aquelas que lera, e como aqueles autores que admirava, quis que essas histórias fossem baseadas em experiências reais. Planejou então ser, um dia, o capitão de seu próprio navio, o que o levou, nos anos de 1878 a 1882, a frequentar o curso náutico no “Regio Istituto Tecnico e Nautico Paolo Sarpi” de Veneza, porém não conseguiu obter as notas necessárias para obter o título de capitão.
Como “homem do mar” fez poucas viagens de treinamento a bordo de um navio-escola e uma viagem, provavelmente na qualidade de passageiro, no navio mercante “Italia Una”, que navegou pelo Adriático durante três meses, abordando a costa dálmata e indo até o porto de Brindisi.
Vendo naufragar a esperança de conhecer o mundo, Emilio Salgari decidiu escrever, começando a trabalhar como escritor na revista ilustrada La Valigia, de Milão, em 1883. No mesmo ano, foi contratado como editor do jornal La Nuova Arena, de Verona. Nesse jornal foram publicados em folhetins os primeiros romances salgarianos: Tay-See (que só mais tarde se tornou La Rosa del Dong-Giang, depois de passar por diversas modificações), uma aventura que se desenrolava na Cochinchina. O sucesso dessa primeira obra marcou seu estilo: muita ação, mudanças drásticas de situações, personagens fortes e cenários exóticos. De acordo com o escritor italiano, Vittorio G. Rossi, “acima de tudo, ele proporcionou excitação e estimulou a imaginação dos leitores italianos, ao produzir um forte contraste com a literatura estagnada da época”.
Depois do primeiro romance, veio La Tigre della Malesia (primeira edição de Le Tigri di Mompracem), cujos protagonistas, o sanguinário pirata Sandokan, o português Yanez, seu fiel amigo e companheiro, e a amada, Marianna, a Pérola de Labuan, inspiraram filmes e desenhos animados e ainda hoje arrebanham uma legião de fãs incondicionais, com direito até a sites e blogs na Internet.
Após a publicação do terceiro livro, La Favorita del Mahdi, o jornal La Nuova Arena foi comprado pelo concorrente, L’Arena, e Salgari ficou trabalhando na nova redação até 1893.
Em 1892 casou-se com Ida Peruzzi, que por toda a vida será chamada por ele afetuosamente de “Aida”, em referência à heroína da ópera de Verdi. Apesar das frequentes mudanças e das enormes dificuldades financeiras, foi um casamento feliz a seu modo, até o dia em que ela morreu internada em um manicômio. No mesmo ano em que se casaram, nasceu a primeira filha, Fátima, e depois vieram três meninos: Nadir, em 1894, Romero, em 1898 e Omar, em 1900.
Em 1898 o editor Donath o convence a se mudar para Gênova. Foi lá que Salgari fez amizade com Giuseppe “Pipein” Gamba, que será o seu primeiro grande ilustrador. Foram anos bons, interrompidos por uma nova mudança, desta vez para Torino, em 1900, onde trabalhou para a Speirani, editora de livros infantis. As condições da família ficaram precárias, apesar do trabalho incessante para manter um decoro burguês respeitável; ele acabou rompendo o contrato com Donath e passou a trabalhar para Bemporad, para o qual escreveu dezenove romances de 1907 a 1911. O sucesso continuava, principalmente entre as crianças, e diversos títulos chegaram ao número de cem mil cópias, apesar de os críticos ignorarem a sua produção.
Considerado o pai do romance de aventuras e da ficção científica na Itália, Salgari foi um dos mais produtivos escritores já vistos. Sua imaginação não conhecia limites. Inspirando-se nos jornais estrangeiros, nos livros e diários de viagens e nas enciclopédias, construiu os enredos que marcaram os quatro primeiros ciclos da sua produção: Piratas da Malásia, Corsários das Antilhas, Corsários das Bermudas e Faroeste.
Depois de algum tempo, Salgari criou uma aventura para ele mesmo: adotando o título de capitão, espalhou o boato de que as suas histórias eram baseadas em experiências reais. Afirmava ter viajado pelas florestas do Ceilão, ter explorado Sudão e ter conhecido Búfalo Bill durante uma viagem a Nebraska.
Não existiam limites para a sua imaginação. Os heróis que criou eram geralmente bárbaros, fora-da-lei ou exilados, perseguidos por colonizadores europeus e vencedores de lutas e batalhas sanguinárias, conquistadores do oeste americano, exploradores da África, da Índia, da Austrália e dos Polos Norte e Sul. Se muitas vezes faltou precisão geográfica na descrição das distâncias percorridas ou na localização exata de um ou outro acidente, sobrou capacidade de provocar expectativa nos leitores. Mesmo marginalizado pela crítica e considerado um escritor menor, foi lido apaixonadamente por sucessivas gerações de jovens, entre os quais se encontram Fellini, que adorava as aventuras salgarianas, Umberto Eco, Gabriel Garcia Márques, Isabel Allende, Carlos Fuentes, Jose Luis Borges e Pablo Neruda, para citar apenas alguns. Paco Ignácio Taibo II, biógrafo de Che Guevara, observou que o anti-imperialismo do revolucionário poderia ser considerado de origem salgariana, já que Che Guevara leu, pelo menos, sessenta e dois romances desse autor.
1 comment