Estão alimentando as caldeiras.
De um salto, Sandokan ficou em pé, com a cimitarra em punho.
— Às armas! — haviam gritado a bordo do vaso de guerra.
Os piratas prontamente se puseram de pé, enquanto os artilheiros se precipitaram para o canhão e as duas balistas.
Todos estavam prontos para travar a luta suprema.
Depois daquele primeiro grito, um breve silêncio foi mantido a bordo do cruzador, mas, em seguida, a mesma voz, que o vento levava nitidamente até o praho, repetiu:
— Às armas! Às armas! Os piratas estão fugindo!
Logo se ouviu o rufar de um tambor na ponte do cruzador, chamando os homens a seus postos de combate.
Os piratas, amontoados nos costados ou apinhados atrás das barricadas formadas com troncos de árvores, nem sequer respiravam, mas aquelas feições ferozes traduziam seu estado de ânimo. Os dedos se contraíam em volta das armas, impacientes para puxar os gatilhos das terríveis carabinas.
O tambor continuava a rufar na ponte do navio inimigo. Ouviam-se as correntes das âncoras rangendo ao passar pelos escovéns e os golpes secos do cabrestante.
O barco se preparava para deixar o ancoradouro e atacar a pequena embarcação corsária.
— A seu posto, Sabau! — comandou o Tigre da Malásia. — Oito homens nas balistas!
Tinha acabado de dar aquele comando quando uma chama brilhou na proa do cruzador, sobre o tombadilho, iluminando bruscamente o traquete e o gurupés. Uma detonação aguda ressoou, seguida imediatamente do ronco metálico dos projéteis sibilando pelos ares.
Um daqueles projéteis aparou a extremidade da verga mestra e se perdeu no mar, erguendo um grande lampejo espumante.
Um grito de fúria ecoou no navio corsário. Agora era preciso aceitar a batalha, e era exatamente isso o que desejava aquela ousada ralé do mar da Malásia.
Uma fumaça avermelhada escapava da chaminé do vaso de guerra. Ouviam-se as rodas de proa mordendo precipitadamente as águas, os lamentos roucos das caldeiras, os comandos dos oficiais, os passos precipitados dos homens.
Todos se apressavam a correr para seus postos de combate.
Viram-se os dois faróis mudando de posição. A embarcação corria para cima do pequeno barco corsário para impedir sua retirada.
— Preparemo-nos para morrer bravamente! — gritou Sandokan, que não se iludia mais sobre o êxito daquela tremenda peleja.
Um só grito respondeu:
— Viva o Tigre da Malásia!
Sandokan, com um vigoroso golpe na barra, virou de bordo e, enquanto seus homens orientavam rapidamente as velas, impeliu o barco de encontro ao navio de guerra para tentar abordá-lo e lançar seus homens na ponte do inimigo.
A canhonada começou imediatamente de ambas as partes. Disparavam balas e metralhas.
— Vamos lá, filhotes, atacar! — trovejou Sandokan. — A partida está desequilibrada, mas nós somos os tigres de Mompracem!
O cruzador avançava rapidamente, mostrando o esporão pontudo e rompendo as trevas e o silêncio com uma furiosa canhonada.
O praho, um verdadeiro brinquedo diante daquele gigante, a quem bastaria uma simples colisão para pô-lo a pique partido em dois, também atacava, com uma coragem inacreditável, dando tiros de canhão da melhor forma que podia.
A partida, contudo, como dissera Sandokan, não era equilibrada, mas sim bastante desigual. Aquela pequena embarcação não podia tentar nada contra a poderosa nau construída em ferro e fortemente armada.
O resultado final, apesar da coragem desesperada dos tigres de Mompracem, não era difícil de adivinhar.
No entanto, os piratas não perdiam o ânimo e queimavam sua munição com uma velocidade extraordinária, tentando exterminar os artilheiros que estavam na coberta e abater os marinheiros dos massames, disparando furiosamente contra o tombadilho, o castelo de proa e os cestos de gávea.
Dois minutos mais tarde, contudo, o praho, sufocado pelos tiros dos artilheiros inimigos, não passava de destroços.
Os mastros haviam caído, os costados estavam arrombados e até mesmo as barricadas de troncos de árvore não ofereciam mais abrigo para aquela tempestade de projéteis.
A água já entrava pelos diversos rasgos, inundando a estiva.
Ninguém falava ainda em se render. Queriam todos morrer, mas lá em cima, na ponte do inimigo.
As descargas, contudo, ficavam cada vez mais violentas. A peça de artilharia de Sabau agora já estava desmantelada e metade da tripulação jazia sobre a ponte, massacrada pela metralha.
Sandokan percebeu que estava chegando a última hora para os tigres de Mompracem.
A derrota seria completa. Não era mais possível enfrentar aquele gigante que vomitava, a todo instante, nuvens de projéteis. Só restava tentar a abordagem, uma loucura, pois nem mesmo na ponte do cruzador a vitória poderia sorrir àqueles valentes.
Não restavam em pé mais do que doze homens, mas eram doze tigres dirigidos por um chefe cuja coragem era inacreditável.
— Venham a mim, meus bravos! — gritou ele.
Os doze piratas, com os olhos perturbados, espumando de raiva, com os punhos fechados como tenazes em torno das armas, usando os corpos dos companheiros como escudos, se apertaram em torno dele.
O navio agora corria a todo vapor em direção ao praho para afundá-lo com o esporão, mas Sandokan, assim que o viu a poucos passos, com um golpe da barra evitou a colisão e lançou seu barco contra a roda de bombordo do inimigo.
Houve um choque violentíssimo. O navio corsário dobrou a boreste, fazendo água e derrubando mortos e feridos no mar.
— Lancem os arpéus! — trovejou Sandokan.
Dois arpéus de abordagem se cravaram nas enfrechaduras do cruzador.
Os treze homens, então, loucos de fúria e com sede de vingança, se lançaram como um único homem à abordagem.
Ajudando-se com os pés e com as mãos, agarrando as portinholas da bateria e os cabos, escalaram as gaiútas, alcançaram os massames e se precipitaram na ponte do cruzador antes que os ingleses, espantados com tamanha audácia, pudessem pensar em jogá-los de volta para o mar.
Com o Tigre da Malásia à frente se arremessaram contra os artilheiros, massacrando suas peças, desbarataram os fuzileiros que haviam acorrido para barrar a passagem e, em seguida, distribuindo golpes de cimitarra à esquerda e à direita, se dirigiram para a popa.
Ali, aos gritos dos oficiais, haviam-se juntado os homens da bateria. Eram sessenta ou setenta, mas os piratas não pararam para contá-los e se atiraram furiosamente sobre as pontas das baionetas, empenhando-se numa luta titânica.
Atacando com golpes desesperados, mutilando braços e rachando cabeças, berrando para espalhar mais terror, caindo e se reerguendo, ora recuando, ora avançando, por alguns minutos conseguiram segurar todos aqueles inimigos, mas atingidos pelos mosquetes dos homens que estavam nos cestos de gávea, golpeados nas costas por sabres, perseguidos pelas baionetas à frente, aqueles bravos homens finalmente caíram.
Sandokan e mais quatro, cobertos de feridas, com as armas ensanguentadas até a empunhadura, com um enorme esforço abriram caminho e tentaram ganhar a proa para deter aquela avalanche de homens a tiros de canhão.
Na metade da ponte, Sandokan caiu, atingido no meio do peito por uma bala de carabina, mas imediatamente se reergueu, trovejando: — Matar! Matar!...
Os ingleses avançavam em marcha de ataque, com as baionetas caladas. O choque foi mortal.
Os quatro piratas que tinham se jogado à frente de seu capitão para protegê-lo, ainda dispararam em meio a uma descarga de fuzil, e foram mortos; mas o mesmo não aconteceu com o Tigre da Malásia.
Aquele homem aterrorizante, apesar da ferida por onde jorrava muito sangue, com um salto imenso alcançou o costado de bombordo, abateu com o toco da cimitarra um marinheiro que tentava detê-lo e se jogou de cabeça no mar, desaparecendo nos vagalhões escuros.

Um navio de guerra desenhado por Salgari.
As armas dos piratas da Malásia: à esquerda, uma carabina;
no centro, um kriss; à direita, uma cimitarra; embaixo, uma balista.
5. A Pérola de Labuan
Um homem daqueles, dotado de uma força tão prodigiosa, de uma energia tão extraordinária e de uma coragem tão grande, não devia morrer.
De fato, enquanto o navio a vapor prosseguia em seu curso, transportado pelas últimas batidas das rodas do leme, o pirata, com um vigoroso golpe dos calcanhares, voltava à tona e nadava para o largo
para não ser cortado pelo esporão do inimigo ou apanhado por tiros de fuzil.
Reprimindo os gemidos que a ferida provocava e controlando a raiva que o devorava, se encolheu sobre si mesmo e ficou quase completamente submerso, à espera do momento oportuno para ganhar a costa da ilha.
O navio de guerra estava virando de bordo, a menos de trezentos metros. Avançou para o local onde o pirata havia mergulhado, com a esperança de despedaçá-lo com as rodas, e depois tornou a virar.
Deteve-se por um momento, como se estivesse querendo observar aquele trecho de mar agitado por ele e, a seguir, retomou a marcha, cortando em todas as direções aquele pedaço de água, enquanto os marinheiros que desceram para a rede do gurupés e para as banquetas projetavam por toda parte a luz de alguns faróis.
Convencido da inutilidade da procura, finalmente se afastou em direção a Labuan.
O Tigre soltou, então, um grito de fúria.
— Vá embora, navio maldito! — exclamou. Vá embora, mas o dia virá em que eu mostrarei como a minha vingança é terrível!
Amarrou uma faixa sobre a ferida sangrenta para estancar a hemorragia que poderia matá-lo e depois, reunindo todas as forças, começou a nadar, buscando as praias da ilha.
Vinte vezes, no entanto, aquele homem aterrorizante se voltou para olhar o navio de guerra, que agora mal podia ser avistado, e para ameaçar terrivelmente o navio. Houve alguns momentos em que o pirata, talvez ferido mortalmente, ainda longe demais da costa da ilha, se punha a perseguir o navio que o havia feito engolir pólvora e o desafiava com gritos que não tinham mais nada de humano.
Finalmente a razão venceu e Sandokan retomou o cansativo exercício, observando as sombras que escondiam as costas de Labuan.
Nadou assim por muito tempo, parando algumas vezes para recuperar o fôlego e se desembaraçar das roupas que estavam atrapalhando. Sentia que suas forças chegavam ao fim.
Os membros estavam ficando enrijecidos, a respiração, cada vez mais difícil e, para o cúmulo da desgraça, o sangue continuava a fluir da ferida, causando uma dor aguda em contato com a água salgada.
Girou sobre si mesmo e se deixou transportar pela correnteza, agitando os braços debilmente. Procurava descansar ao máximo para recuperar o fôlego.
De repente, sentiu um choque. Alguma coisa havia encostado nele. Talvez fosse um peixe-cão. A esse pensamento, apesar da sua coragem de leão, sentiu um arrepio percorrer a pele.
Instintivamente esticou a mão e agarrou um objeto áspero, que parecia estar flutuando na água.
Puxou-o e viu que se tratava de um destroço. Era um pedaço da coberta do praho ao qual ainda estavam presas amarras e uma cruzeta.
— Finalmente — murmurou Sandokan. — As minhas forças estavam acabando.
Exaurido, conseguiu se içar para cima do destroço, descobrindo a ferida de cujas bordas, inchadas e vermelhas por causa da água do mar, ainda corria um filete de sangue.
Durante mais uma hora, aquele homem que se recusava a morrer e não queria se dar por vencido lutou contra as ondas que teimavam em submergir o destroço, mas depois sentiu que as forças o abandonavam e ficou completamente prostrado, com as mãos ainda fechadas em torno da cruzeta.
Começava a amanhecer quando um golpe violentíssimo o arrancou daquele desânimo que podia ser considerado quase um desmaio.
Ergueu-se com muito esforço sobre os braços e olhou em frente. As ondas se quebravam em torno do destroço, fazendo curvas e espumando. Parecia que estavam rolando no raso.
Como que através de uma névoa sangrenta, o ferido avistou a costa a uma pequena distância.
— Labuan — murmurou. — Vim parar justo aqui, na terra dos meus inimigos?
Teve um breve momento de hesitação, mas juntou suas forças, abandonou aquelas tábuas que o haviam salvado de uma morte quase certa e avançou em direção à costa, sentindo sob os pés um banco de areia.
As ondas vinham de todos os lados e o atingiam como cães furiosos tentando abatê-lo, ora empurrando-o, ora puxando-o.
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