Parecia que tentavam impedi-lo de chegar àquela terra maldita.
Avançou vacilante pelos bancos de areia e, depois de ter lutado contra as últimas ondas da ressaca, alcançou a orla coroada de grandes árvores e se deixou cair pesadamente no solo.
Embora se sentisse enfraquecido pela longa luta e pela grande perda de sangue, descobriu a ferida e examinou-a longamente.
Levara um tiro, talvez de pistola, embaixo da quinta costela do lado direito, e aquela peça de chumbo, depois de deslizar entre os ossos, se perdera no interior do seu peito, mas sem atingir nenhum órgão vital, pelo que parecia.
Talvez a ferida não fosse grave, mas poderia ficar se não fosse tratada imediatamente, e Sandokan, que conhecia um pouco do assunto, sabia bem disso.
Ouvindo o murmúrio de um córrego nas proximidades, se arrastou até lá, abriu os lábios da ferida que estava inchada após o contato prolongado com a água do mar e lavou-a cuidadosamente, comprimindo-a depois, até que saíssem algumas gotas de sangue.
Juntou bem as bordas, enfaixou a ferida com um retalho da sua camisa, única peça de roupa que ainda tinha no dorso, além da faixa que segurava o kriss.
— Vou melhorar — murmurou ele quando acabou, e pronunciou aquelas palavras com tanta energia que fazia com que se acreditasse ser ele o árbitro absoluto da própria existência.
Aquele homem de ferro, embora sozinho naquela ilha, onde só poderia encontrar inimigos, sem um refúgio, sem recursos, ferido, sem uma mão amiga que o socorresse, tinha certeza de que sairia vitorioso daquela situação medonha.
Bebeu alguns goles de água para acalmar a febre que começava a tomar conta dele e se arrastou para baixo de uma areca, cujas folhas gigantescas, com mais de quatro metros de comprimento e quase dois de largura, projetavam uma sombra fresca ao seu redor.
Acabara de chegar ali quando sentiu novamente que suas forças estavam acabando.
Fechou os olhos que giravam formando um círculo sangrento e, após ter tentado em vão se manter de pé, caiu entre as ervas e ficou imóvel.
Só voltou a si muitas horas depois, quando o sol já descia em direção ao ocidente, tendo já atingido um tom púrpura.
Uma sede enlouquecedora o atormentava, e a ferida, não mais refrescada, produzia dores agudas, insuportáveis.
Tentou levantar para se arrastar até o riacho, mas, de repente, caiu de novo. Então, aquele homem que desejava ser forte como a fera que lhe emprestava o nome, com um tremendo esforço, se ergueu sobre os joelhos, gritando quase em tom de desafio:
— Eu sou o Tigre!... Forças, voltem para mim!...
Ficou em pé, se agarrando ao tronco da areca e se manteve assim por um prodígio de equilíbrio e de energia; depois caminhou até o pequeno curso de água e caiu na margem.
Após matar a sede, banhou novamente a ferida, colocou a cabeça entre as mãos e fixou o olhar no mar que rompia a poucos passos dali com ruídos surdos.
— Ah! — exclamou ele, arreganhando os dentes. — Quem poderia dizer que um dia os leopardos de Labuan venceriam os tigres de Mompracem? Quem poderia dizer que eu, o invencível Tigre da Malásia, estaria confinado aqui, derrotado e ferido? E quando poderei ter a minha vingança? A vingança!... Todos os meus prahos, as minhas ilhas, os meus homens, os meus tesouros pela destruição desses odiados homens brancos que se batem comigo por esse mar afora!
Que importa se hoje me fizeram engolir pólvora, se em um mês ou dois voltarei aqui com meus navios para lançar nessas praias o meu terrível bando com sede de sangue?
Que importa se hoje o leopardo inglês está orgulhoso de sua vitória? Será ele que em breve vai cair moribundo a meus pés!
Todos os ingleses de Labuan vão tremer, então, quando eu mostrar a minha bandeira sangrenta à luz dos incêndios!
O pirata, falando assim, se erguera novamente com os olhos flamejantes, agitando ameaçadoramente a mão direita, como se ainda apertasse a terrível cimitarra, vibrando, tremendo.
Embora ferido, continuava sendo o indomável Tigre da Malásia.
— Paciência por ora, Sandokan — recomeçou ele, caindo novamente entre a vegetação e os ramos secos. — Vou me curar, mesmo que precise viver um mês, dois, três, nesta floresta, comendo moluscos e frutas; mas quando tiver recuperado as forças, voltarei a Mompracem, nem que eu tenha que fazer uma jangada ou roubar uma canoa a golpes de kriss.
Ficou várias horas deitado embaixo das largas folhas das arecas, olhando sinistramente as ondas que vinham morrer quase aos seus pés, com milhares de murmúrios. Parecia estar procurando naquela água os cascos de seus navios afundados naquelas paragens ou os cadáveres de seus infelizes companheiros.
Nesse meio tempo, uma febre cada vez mais forte tomava conta dele, enquanto sentia ondas de sangue subindo para o cérebro. A ferida provocava espasmos ininterruptos, mas nenhum lamento saía dos lábios daquele homem extraordinário.
Às oito horas, o sol se precipitou no horizonte e, após um crepúsculo rápido, as trevas caíram sobre o mar e invadiram a floresta.
Aquela escuridão produziu uma inexplicável sensação no ânimo de Sandokan. Teve medo da noite, ele, o pirata orgulhoso que nunca temera a morte e que enfrentara com uma coragem desesperada os perigos da guerra e os furores das ondas.
— As sombras! — exclamou ele, cavando a terra com as unhas. — Não quero que a noite chegue!... Não quero morrer!...
Comprimiu a ferida com as duas mãos e se levantou de um pulo. Olhou para o mar, agora enegrecido como se fosse de nanquim; olhou embaixo das árvores, perscrutando a sombra profunda; a seguir, tomado talvez por uma inesperada crise de delírio, se pôs a correr como um louco, se embrenhando na selva.
Aonde ia? Por que fugia? Com certeza um medo estranho o invadira. Em seu delírio, parecia ouvir latidos de cães, gritos de homens e rugidos de feras a distância. Acreditava que talvez já tivesse sido descoberto e perseguido.
Em pouco tempo aquela corrida se tornou vertiginosa. Completamente fora de si, se precipitava enlouquecido à frente, se arremessando no meio das moitas, saltando os troncos caídos, atravessando torrentes e charcos, gritando, praguejando e agitando o kriss como um possesso.
Continuou assim por dez ou quinze minutos, se embrenhando cada vez mais entre as árvores, despertando com seus gritos os ecos da floresta tenebrosa e, finalmente, se deteve ofegante e exausto.
Seus lábios estavam cobertos por uma espuma sangrenta e os olhos, esbugalhados.
Agitou irracionalmente os braços e desabou no chão como uma árvore atingida por um raio.
Delirava; parecia que a cabeça ia se partir ao meio e que dez martelos batiam em suas têmporas. O coração saltava no peito como se quisesse fugir dali e ele tinha a impressão que saíam jatos de fogo da ferida.
Pensava estar vendo inimigos por toda parte. Seus olhos avistavam homens escondidos embaixo das árvores, das moitas, no meio dos montes de terra e das raízes que serpenteavam no solo, enquanto pensava ver legiões de fantasmas fazendo piruetas no ar e esqueletos dançando em tono das grandes folhas das árvores.
Seres humanos surgiam do solo, gemendo e berrando, alguns com a testa sangrando, outros com os membros mutilados e os quadris dilacerados. Todos eles riam e gargalhavam como se zombassem da impotência do terrível Tigre da Malásia.
Sandokan, tomado por um espantoso acesso de delírio, rolava pelo chão, levantava, caía, estendia o punho e ameaçava a tudo e a todos.
— Vão embora daqui, seus cães! — berrava. — O que querem de mim?... Eu sou o Tigre da Malásia e não tenho medo de vocês!... Venham me atacar, se tiverem coragem!... Ah! Estão rindo?... Acham que estou impotente porque os leopardos feriram e venceram o Tigre?... Não, não tenho medo!...
Por que me olham com esses olhos de fogo?... Por que vieram dançar em volta de mim? Até você, Patan, veio zombar de mim?... Até você, Aranha do Mar?... E você, Kimperlain, o que está querendo?... Não foi o bastante ter sido abatido pela minha cimitarra?... Vão todos embora, voltem para o fundo do mar... para o reino das trevas...
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