Mas para onde estava indo quando foi atacado?
— Estava levando alguns presentes ao sultão de Varauni, por parte do meu irmão.
— E quem é o seu irmão?
— O sultão de Shaja.
— Então você é um príncipe malásio! — exclamou o Lorde, estendendo a mão que Sandokan, após uma pequena hesitação, apertou quase que com náuseas.
— Sou, milorde.
— Estou muito contente em hospedá-lo e vou fazer o possível para que não se aborreça quando estiver curado. Em vez disso, se você concordar, vamos procurar juntos o sultão de Varauni.
— Claro e...
Ele se interrompeu, esticando a cabeça, como se tentasse ouvir alguns rumores distantes.
De fora vinham os acordes de uma mandola, talvez os mesmos sons que ouvira um pouco antes.
— Milorde! — exclamou, tomado por uma viva excitação da qual tentava, em vão, descobrir a causa. — Quem está tocando?
— Por que, meu caro príncipe? — perguntou o inglês, sorrindo.
— Não sei... mas desejaria muito conhecer a pessoa que toca assim... Poderia dizer que essa música toca o meu coração... e que me faz experimentar uma sensação nova e inexplicável.
— Espere um instante. — Fez um sinal para que ele se deitasse de novo e saiu.
Sandokan caiu sobre o travesseiro, mas quase imediatamente se reergueu, como que impelido por uma mola.
A inexplicável comoção que o acometera um pouco antes voltava a tomar conta dele com violência ainda maior. O coração batia de tal maneira que parecia querer saltar do peito; o sangue corria furiosamente pelas veias, e os braços e pernas eram tomados por estranhas vibrações.
— Mas o que é isso? — se perguntou. — Talvez seja o delírio que ainda toma conta de mim?
Assim que acabou de pronunciar essas palavras, o Lorde entrou no quarto e, desta vez, estava acompanhado.
Atrás dele vinha uma criatura fantástica, que parecia mal tocar o tapete ao andar. Quando a viu, Sandokan foi incapaz de conter uma exclamação de surpresa e de admiração.
Era uma jovem de dezesseis ou dezessete anos, estatura pequena, mas esbelta e elegante, com formas esplendidamente modeladas, a cintura muito estreita, a pele rosada e fresca como uma flor que tivesse acabado de ser colhida.
Seu rosto era admirável, com olhos azuis como a água do mar, uma fronte de incomparável precisão, sob a qual se destacavam sobrancelhas ligeiramente arqueadas e que quase se tocavam. Uma cabeleira loira descia como uma chuva de ouro numa desordem fascinante pelo corpete que lhe cobria os seios.
O pirata, ao ver essa dama que parecia ser apenas uma menina, ficou emocionado até o fundo de sua alma. Aquele homem orgulhoso, sanguinário, que trazia o nome terrível de Tigre da Malásia, pela primeira vez na vida se sentia fascinado diante de uma criatura tão graciosa, diante daquela flor delicada nascida nos bosques de Labuan.
Seu coração, que pouco antes batia precipitadamente, agora ardia e parecia que nas veias corriam línguas de fogo.
— Muito bem, meu caro príncipe, o que acha desta jovem encantadora? — perguntou o Lorde.
Sandokan não respondeu; imóvel como uma estátua de bronze, fixava a mocinha com olhos que lançavam chamas de desejo ardente, e parecia que não era mais capaz de respirar.
— Está se sentindo mal? — perguntou o Lorde, que o observava.
— Não, não — exclamou vivamente o pirata, sacudindo a cabeça.
— Então me permita apresentar a minha sobrinha, Lady Marianna Guillonk.
— Marianna Guillonk!... Marianna Guillonk!... — repetiu Sandokan, com uma entonação surda.
— O que você acha de diferente no meu nome? — perguntou a jovenzinha, sorrindo. — Parece que ele provocou uma surpresa enorme.
Ao ouvir aquela voz, Sandokan teve um forte sobressalto. Nunca ouvira uma voz tão doce acariciar seus ouvidos, habituado que estava à música infernal dos canhões e aos gritos de morte dos combatentes.
— Não vejo nada de estranho — disse com voz alterada. — Mas me parece que eu já o conhecia.
— Oh! — exclamou o Lorde. — E quem falou dele para você?
— Já o tinha lido antes, no livro que está aí, e fiquei pensando que a dona dele devia ser uma criatura maravilhosa.
— Está brincando — disse a Lady, enrubescendo. Depois, mudando de tom, perguntou: — É verdade que você foi gravemente ferido pelos piratas?
— É verdade — respondeu Sandokan com voz surda. — Eles me venceram e me feriram, mas, um dia, estarei curado, e então pobre daqueles que me fizeram engolir pólvora.
— Você está sofrendo muito?
— Não, milady, e agora, menos ainda.
— Espero que sare logo.
— O nosso príncipe é um homem vigoroso — disse o Lorde — e não ficarei espantado se o vir de pé em dez dias.
— Espero que sim — respondeu Sandokan.
De repente, ele, que não afastava os olhos do rosto da jovem, sobre o qual deslizava de vez em quando uma névoa rosada, se endireitou impetuosamente, exclamando:
— Milady!...
— Meu Deus, o que você tem? — perguntou a Lady, se aproximando.
— Diga uma coisa, você tem um nome infinitamente mais belo que o de Marianna Guillonk, não é verdade?
— Que nome? — perguntaram ao mesmo tempo o Lorde e a jovem condessa.
— Tem, sim! — exclamou Sandokan com mais força. — Só pode ser você a criatura a que todos os nativos chamam de a Pérola de Labuan!...
O Lorde fez um gesto de surpresa e uma ruga profunda sulcou sua testa.
— Meu amigo — disse com voz grave. — Como é que você sabe disso, se me disse que vinha de uma distante ilha malaia?
— Não é possível que esse apelido tenha chegado até o seu país — acrescentou Lady Marianna.
— Não o escutei em Shaja — respondeu Sandokan, que por pouco não se traíra — mas, sim, nas Romades, em cujas praias desembarquei há alguns dias. Lá me falaram de uma jovem de beleza incomparável, olhos azuis, cabelos perfumados como os jasmins de Bornéu; de uma criatura que cavalgava como uma amazona e que caçava feras com muita ousadia; de uma mocinha etérea que, em certas tardes, durante o pôr-do-sol, podia ser vista nas praias de Labuan, fascinando os pescadores das costas com um canto mais doce que o murmúrio dos riachos. Ah! milady, eu também quero um dia ouvir essa voz.
— Quantas graças me atribuem! — respondeu a Lady, rindo.
— É verdade, e vejo que aqueles homens que me falaram de você foram honestos! — exclamou o pirata com um ardor apaixonado.
— Você está me adulando — disse ela.
— Cara sobrinha — disse o Lorde — você vai enfeitiçar o nosso príncipe também.
— Tenho certeza disso! — exclamou Sandokan. — E quando eu for embora desta casa para voltar ao meu país distante, vou dizer a meus compatriotas que uma jovem dama de rosto alvo venceu o coração de um homem que acreditava ser invulnerável.
A conversa continuou por mais algum tempo, girando ora sobre a pátria de Sandokan, ora sobre os piratas de Mompracem, ora sobre Labuan e depois, tendo caído a noite, o Lorde e a jovenzinha se retiraram.
Quando o pirata se viu sozinho, ficou imóvel por um longo tempo, com os olhos fixos na porta pela qual saíra aquela mocinha diáfana. Parecia estar tomado por profundos pensamentos e por uma viva emoção.
Talvez, naquele coração que até então nunca batera por uma mulher, caísse uma terrível tempestade no momento.
Subitamente, Sandokan ficou muito perturbado e alguma coisa, como que um som rouco, rumorejou no fundo da garganta, pronto a irromper, mas os lábios continuaram fechados e os dentes se contraíram com mais força em um longo rangido.
Ficou alguns momentos ali, imóvel, com olhos flamejantes, o rosto alterado, a testa perolada de gotas de suor, as mãos enfiadas nos cabelos crespos e longos, e então os lábios que não queriam mais se abrir deixaram passar um nome em êxtase:
— Marianna!
E depois o pirata não se conteve mais.
— Ah! — exclamou ele, quase com raiva, torcendo as mãos. — Acho que estou ficando louco... que eu... a amo!...

Os piratas de Mompracem.
7. Cura e amor
Lady Marianna Guillonk nascera sob o belo céu da Itália, às margens do fantástico golfo de Nápoles, de mãe italiana e pai inglês.
Tendo ficado órfã aos onze anos, e sendo herdeira de uma bela fortuna, fora acolhida por seu tio James, o único parente que se encontrava na Europa na época.
Naqueles tempos, James Guillonk era um dos mais
intrépidos lobos dos mares dos dois mundos, proprietário de uma nau armada e aparelhada para a guerra, a fim de cooperar com James Brooke que, mais tarde, se tornou rajá de Sarawak após o extermínio dos piratas malaios, os terríveis inimigos do comércio inglês naqueles mares longínquos.
Embora Lorde James, rude como todo marinheiro e incapaz de nutrir qualquer afeição, não tivesse uma ternura excessiva pela jovem sobrinha, em vez de confiá-la a mãos estranhas, embarcou-a em seu próprio navio e levou-a para Bornéu, expondo-a aos graves perigos daquele difícil cruzeiro.
Durante três anos, a menina testemunhou batalhas sangrentas em que morriam milhares de piratas que, no final, proporcionaram ao futuro rajá Brooke aquela triste celebridade que perturbou e indignou profundamente seus compatriotas.
Um dia, contudo, Lorde James, cansado da carnificina e dos perigos, talvez se lembrando de que tinha uma sobrinha, abandonara o mar e se estabelecera em Labuan, se enclausurando nos grandes bosques da região central da ilha.
Lady Marianna, então com quase catorze anos, depois de ter levado aquela vida perigosa, conquistara uma altivez e uma energia únicas e, embora parecesse ser uma menina frágil, tentara se rebelar contra as vontades do tio, achando que jamais se acostumaria àquele isolamento e àquela vida quase selvagem, mas o lobo dos mares, que parecia não ligar muito para a opinião dela, ficou inflexível.
Obrigada a suportar aquela estranha prisão, a jovenzinha se dedicou inteiramente a completar a própria educação, de que até então não tivera tempo de cuidar.
Dotada de uma vontade tenaz, aos poucos modificara o ímpeto feroz, adquirido naquelas batalhas cruéis e sanguinárias, e aquela rudeza obtida graças ao contato contínuo com a gente do mar.
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