Mas tal como é, gozemos o momento,

Solenes na alegria levemente,

E aguardando a morte

Como quem a conhece.

Aos Deuses

Aos deuses peço só que me concedam

O nada lhes pedir. A dita é um jugo

E o ser feliz oprime Porque é um certo estado.

Não quieto nem inquieto meu ser calmo

Quero erguer alto acima de onde os homens

Têm prazer ou dores.

Antes de Nós

Antes de nós nos mesmos arvoredos

Passou o vento, quando havia vento,

E as folhas não falavam

De outro modo do que hoje.

Passamos e agitamo-nos debalde.

Não fazemos mais ruído no que existe

Do que as folhas das árvores

Ou os passos do vento.

Tentemos pois com abandono assíduo

Entregar nosso esforço à Natureza

E não querer mais vida

Que a das árvores verdes.

Inutilmente parecemos grandes.

Salvo nós nada pelo mundo fora

Nos saúda a grandeza

Nem sem querer nos serve.

Se aqui, à beira-mar, o meu indício

Na areia o mar com ondas três o apaga,

Que fará na alta praia

Em que o mar é o Tempo?

Anjos ou Deuses

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,

A visão perturbada de que acima

De nos e compelindo-nos

Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos

O nosso esforço, que eles não compreendem,

Os coage e obriga

E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento

São as mãos pelas quais outros nos guiam

Para onde eles querem E nós não desejamos.

A Palidez do Dia

A palidez do dia é levemente dourada.

O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas Dos troncos de ramos Secos.

O frio leve treme.

Desterrado da pátria antiqüíssima da minha

Crença, consolado só por pensar nos deuses, Aqueço-me trêmulo A outro sol do que este.

O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole O que alumiava os passos lentos e graves

De Aristóteles falando.

Mas Epicuro melhor

Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre

Tendo para os deuses uma atitude também de deus, Sereno e vendo a vida À distância a que está.

Atrás Não Torna

Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve

Sua face, Saturno.

Sua severa fronte reconhece

Só o lugar do futuro.

Não temos mais decerto que o instante

Em que o pensamos certo.

Não o pensemos, pois, mas o façamos

Certo sem pensamento.

A Nada Imploram

A nada imploram tuas mãos já coisas,

Nem convencem teus lábios já parados,

No abafo subterrâneo

Da úmida imposta terra.

Só talvez o sorriso com que amavas

Te embalsama remota, e nas memórias

Te ergue qual eras, hoje

Cortiço apodrecido.

E o nome inútil que teu corpo morto

Usou, vivo, na terra, como uma alma,

Não lembra.

A ode grava, Anônimo, um sorriso.

As Rosas

As Rosas amo dos jardins de Adônis,

Essas volucres amo, Lídia, rosas,

Que em o dia em que nascem,

Em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porque

Nascem nascido já o sol, e acabam

Antes que Apolo deixe

O seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,

Inscientes, Lídia, voluntariamente

Que há noite antes e após

O pouco que duramos.

Azuis os Montes

Azuis os montes que estão longe param.