Do mesmo modo a vida é sempre a mesma.

Nós não vemos as Parcas acabarem-nos.

Por isso as esqueçamos Como se não houvessem.

Colhendo flores ou ouvindo as fontes

A vida passa como se temêssemos.

Não nos vale pensarmos No futuro sabido

Que aos nossos olhos tirará Apolo E nos porá longe de Ceres e onde Nenhum Pã cace à flauta

Nenhuma branca ninfa.

Só as horas serenas reservando

Por nossas, companheiros na malícia

De ir imitando os deuses Até sentir-lhe a calma.

Venha depois com as suas cãs caídas

A velhice, que os deuses concederam

Que esta hora por ser sua Não sofra de Saturno Mas seja o templo onde sejamos deuses

Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios

Nem precisam de crentes Os que de si o foram.

Dia Após Dia

Dia após dia a mesma vida é a mesma.

O que decorre, Lídia,

No que nós somos como em que não somos

Igualmente decorre.

Colhido, o fruto deperece; e cai

Nunca sendo colhido.

Igual é o fado, quer o procuremos,

Quer o 'speremos.

Sorte Hoje,

Destino sempre, e nesta ou nessa

Forma alheio e invencível.

Do que Quero

Do que quero renego, se o querê-lo

Me pesa na vontade.

Nada que haja

Vale que lhe concedamos

Uma atenção que doa.

Meu balde exponho à chuva, por ter água.

Minha vontade, assim, ao mundo exponho,

Recebo o que me é dado,

E o que falta não quero.

O que me é dado quero

Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado

Ou que o tido desejo.

Domina ou Cala

Domina ou cala.

Não te percas, dando

Aquilo que não tens.

Que vale o César que serias?

Goza Bastar-te o pouco que és.

Melhor te acolhe a vil choupana dada

Que o palácio devido.

Estás só. Ninguém o sabe.

Estás só.

Ninguém o sabe.

Cala e finge.

Mas finge sem fingimento.

Nada 'speres que em ti já não exista,

Cada um consigo é triste.

Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,

Sorte se a sorte é dada.