– Prossiga, criança.
– Eu corri. Ele, o Le Loup, me perseguiu... e me alcançou – as palavras morreram em um silêncio comovente.
– Entendo, criança. E então...?
– Então, ele... ele me esfaqueou… Com seu punhal. Oh, santos benditos! Misericórdia…
De repente, seu corpo esguio amoleceu. O homem deitou-a sobre a terra e tocou sua fronte suavemente.
– Morta! – murmurou.
Levantou-se devagar, enxugando mecanicamente as mãos em seu manto. Uma soturna máscara abateu-se em seu rosto. Contudo, ele não fez nenhum voto selvagem e temerário, nem fez promessas a santos ou a demônios. Apenas disse friamente:
– Homens morrerão por causa disso.
2. O covil de Le Loup
– Você é um tolo! – as palavras vieram em um rosnado gélido, que coalhou o sangue do ouvinte.
Aquele que acabara de ser chamado de tolo apenas abaixou os olhos, taciturno, sem responder.
– Você e todos os outros que eu lidero! – o orador inclinou-se para a frente, e seu punho bateu firme na mesa rústica entre eles.
Era um homem alto e esguio, flexível como um leopardo e com um rosto predatório, cruel e cavado. Seus olhos dançaram e brilharam em uma zombaria imprudente.
O companheiro respondeu mal-humorado:
– Vou lhe contar, esse Solomon Kane é um demônio vindo do inferno.
– Idiota! Imbecil! Ele é um homem… que morrerá pela bala de uma pistola ou por um golpe de espada.
– Assim pensaram Jean, Juan e La Costa – respondeu o outro com seriedade. – Onde estão eles? Pergunte aos lobos das montanhas que arrancaram a carne de seus ossos mortos. Onde esse Kane se esconde? Vasculhamos montanhas e vales por quilômetros, mas não achamos sinal algum dele. Vou lhe contar, Le Loup, ele vem do inferno. Sabia que nada de bom viria depois de enforcar aquele frade, uma lua atrás.
Impaciente, Le Loup tamborilava a mesa. Apesar das marcas de dissipação e da vida selvagem, seu rosto era o de um pensador. As superstições de seus seguidores não o afetavam em nada.
– Idiota! Repito: o homem encontrou alguma caverna ou vale secreto, do qual não temos conhecimento, onde se esconde durante o dia.
– E durante a noite, ele sai e nos chacina – comentou o outro, de forma pessimista. – Ele nos caça como um lobo caça um cervo... Por Deus, Le Loup, você chama a si próprio de Le Loup, mas acho que, enfim, encontrou um lobo mais feroz e habilidoso. A primeira vez que escutamos falar desse homem foi quando encontramos Jean, um bandido violento, pregado em uma árvore com o próprio punhal enfiado no peito, e as letras S.L.K. entalhadas em suas bochechas mortas. Em seguida, o espanhol Juan foi abatido e, mesmo moribundo quando o encontramos, ainda teve tempo para nos contar que o assassino era um inglês, chamado Solomon Kane, que jurou destruir nosso bando inteiro! E depois? La Costa, um espadachim tão bom que só perde para você, partiu no encalço de Kane. Pelos demônios da perdição, parece que ele realmente o encontrou, pois achamos seu cadáver trespassado no topo de um rochedo. E agora? Vamos todos cair diante desse demônio inglês?
– É verdade, nossos melhores homens foram mortos por ele – devaneou o chefe –, mas logo os outros retornarão daquela pequena viagem até o eremita; então, veremos. Kane não pode se esconder para sempre.
1 comment