Ãhn! O que foi isso?

Os dois voltaram-se rapidamente, quando uma sombra incidiu sobre a mesa. Na entrada da caverna usada como covil dos bandidos, um homem cambaleava; ele titubeava em pernas bambas, e uma escura mancha vermelha tingia sua túnica. Deu alguns passos vacilantes para a frente, então lançou-se sobre a mesa e caiu no chão.

– Demônios do inferno! – amaldiçoou Le Loup, colocando-o na posição vertical e apoiando-o em uma cadeira. – Onde estão os outros?

– Mortos! Todos mortos!

– Como? Que as pragas do diabo caiam sobre você, fale! – Le Loup sacudiu o homem selvagemente, enquanto o outro bandido observava a situação, com os olhos arregalados de horror.

– Chegamos à cabana do eremita com o nascer da Lua – o homem murmurou. – Fiquei do lado de fora, de guarda. Os outros entraram... para torturar o eremita até que ele revelasse... o local escondido... do seu ouro.

– Sim, sim! E então? – Le Loup estava colérico de impaciência.

– Então, o mundo ficou vermelho, a cabana subiu em um rugido estrondoso e, quando uma chuva vermelha inundou o vale, eu vi o eremita e um homem alto, vestido todo de preto, saindo do meio das árvores...

– Solomon Kane! – arfou o outro bandido – Eu sabia! Eu...

– Cale-se, tolo! – rosnou o chefe. – Prossiga!

– Eu fugi... Kane me perseguiu, feriu-me, mas consegui despistá-lo… Cheguei aqui primeiro – disse arfante.

O homem deu um pulo, esmurrando a mesa.

– Santos e demônios! – enfureceu-se Le Loup. – Como é esse Kane?

– Como Satanás...

A voz arrastada caiu no silêncio. O morto escorregou da mesa, amontoando-se no chão.

– Como Satanás – balbuciou o outro bandido –, eu disse a você! Ele é o próprio Chifrudo! Vou lhe dizer...

Mas parou de falar quando um rosto amedrontado, que espiava na entrada da caverna, perguntou:

– Kane?

– Sim! – Le Loup estava confuso demais para mentir para o companheiro. – Fique de olhos abertos, La Mon; logo mais, Rato e eu nos juntaremos a você.

A pessoa do rosto amedrontado se retirou, e Le Loup virou-se para o outro e falou.

– E isso termina com o bando. Você, eu e aquele ladrão, La Mon, somos tudo o que restou. O que você sugere?

Os lábios pálidos do Rato mal formavam uma palavra: “Fugir!”.

– Você está certo. Vamos pegar as joias e o ouro da arca e fugir, usando a passagem secreta.

– E La Mon?

– Ele pode montar guarda até estarmos prontos para fugir. Então... por que dividir o saque em três?

Um sorriso sutil tocou as feições malévolas de Rato. Um pensamento repentino o atingiu.

– Ele – disse apontando para o cadáver no chão – falou que chegou aqui primeiro. Isso quer dizer que Kane o perseguia?

Enquanto Le Loup acenava impacientemente com a cabeça, o outro voltou-se ligeiro para as arcas. A vela tremeluzente sobre a mesa rústica iluminou uma cena estranha. A luz trepidante, como uma dança, tornava ainda mais vermelho o lago de sangue que se ampliava lentamente ao redor do cadáver estirado; ela saltitava sobre a pilha de joias e moedas sobre o chão, esvaziadas de dentro das arcas de latão enfileiradas nas paredes o mais rápido possível; e reluzia nos olhos de Le Loup com o mesmo fulgor que cintilava em seu punhal desembainhado.

As arcas estavam vazias; o tesouro acumulado formava uma massa reluzente no chão manchado de sangue. Le Loup parou e ficou na escuta. Lá fora, fazia silêncio. Não havia Lua, e a imaginação aguda de Le Loup visualizou o assassino sombrio, Solomon Kane, planando pela escuridão, uma sombra entre as sombras. Le Loup deu um sorriso torto; desta vez, o ataque do inglês seria frustrado.

– Ainda restou uma que não foi aberta – disse ele, apontando a arca.

Rato, murmurando uma exclamação de surpresa, curvou-se sobre a caixa indicada.