(escreve) ROSINHA

Subscritada para mim. À Sra. Rosinha. (Bento escreve)

Põe agora este bilhete nesse e leva. Voltarás a propósito. Tens também muitas vozes?

 

BENTO

Vario de fala, como de letra.

 

ROSINHA

Imitarás o sotaque espanhol?

 

BENTO

Como quem bebe um copo d’água!

 

ROSINHA

Silêncio! Ali está o Sr. Durval.

CENA V

ROSINHA, BENTO, DURVAL

 

DURVAL

(a Bento)

Trouxeste a caixa, palerma?

 

BENTO

(escondendo atrás das costas o ramalhete)

Sim, senhor.

 

DURVAL

Traz a carruagem para o portão

 

BENTO

Sim senhor. (Durval vai vestir o sobretudo, mirando-se ao espelho) O jornal? Onde pus eu o jornal? (sentindo-o no bolso) Ah!…

 

ROSINHA

(baixo a Bento)

Não passes na sala de espera. (Bento sai)

CENA VI

DURVAL, ROSINHA

 

DURVAL

Adeus, Rosinha, é preciso que eu me retire.

 

ROSINHA

(à parte)

Pois não!

 

DURVAL

Dá essa caixa a tua ama.

 

ROSINHA

Vai sempre ao baile com ela?

 

DURVAL

Ao baile? Então abriste caixa?

 

ROSINHA

Não vale a pena falar nisso. Já sei, já sei que foi recebido de braços abertos.

 

DURVAL

Exatamente. Era a ovelha que voltava ao aprisco depois de dois anos de apartamento.

 

ROSINHA

Já vê que andar longe não é mau. A volta é sempre um triunfo. Use, abuse mesmo da receita. Mas então sempre vai ao baile?

 

DURVAL

Nada sei de positivo. As mulheres são como os logogrifos. O espírito se perde no meio daquelas combinações…

 

ROSINHA

Fastidiosas, seja franco.

 

DURVAL

É um aleive: não é esse o meu pensamento. Contudo devo, parece-me dever crer, que ela irá. Como me alegra, e me entusiasma esta preferência que me dá a bela Sofia!

 

ROSINHA

Preferência? Há engano: preferir supõe escolha, supõe concorrência…

 

DURVAL

E então?

 

ROSINHA

E então, se ela vai ao baile é unicamente pelos seus bonitos olhos, se não fora V.

 

S., ela não ia.

 

DURVAL

Como é isso?

 

ROSINHA

(indo ao espelho)

Mire-se neste espelho.

 

DURVAL

Aqui me tens

 

ROSINHA

O que vê nele?

 

DURVAL

Boa pergunta! Vejo-me a mim próprio.

 

ROSINHA

Pois bem. Está vendo toda a corte da Sra. Sofia, todos os seus adoradores.

 

DURVAL

Todos! Não é possível. Há dois anos a bela senhora era a flor bafejada por uma legião de zéfiros… Não é possível.

 

ROSINHA

Parece-me criança! Algum dia os zéfiros foram estacionários? Os zéfiros passam e mais nada. É. o símbolo do amor moderno.

 

DURVAL

E a flor fica no hastil. Mas as flores duram uma manhã apenas. (severo) Quererás tu dizer que Sofia passou a manhã das flores?

 

ROSINHA

Ora, isso é loucura. Eu disse isto?

 

DURVAL

(pondo a bengala junto ao piano)

Parece-me entretanto…

 

ROSINHA

V. S. tem uma natureza de sensitiva; por outra, toma os recados na escada.

Acredite ou não, o que lhe digo é a pura verdade. Não vá pensar que o afirmo assim para conservá-lo junto de mim: estimara mais o contrário.

 

DURVAL

(sentando-se)

Talvez queiras fazer crer que Sofia é alguma fruta passada, ou joia esquecida no fundo da gaveta por não estar em moda. Estais enganada.