Dedicavam-se totalmente à diversão dissoluta ou à rivalidade sangrenta. Minha personalidade continuava a mesma. Eu era arrogante e teimoso; adorava exibição e, acima de tudo, afastava todo o controle para bem longe de mim. Quem poderia me controlar em Paris? Meus jovens amigos estavam ansiosos para acalentar paixões que lhes fornecessem prazeres. Eu era consideravelmente bonito, dominava todas as habilidades cavalheirescas. Era desligado de qualquer partido político. Tornei-me favorito de todos: minha presunção e arrogância eram perdoadas por eu ser tão jovem, e virei uma criança mimada. Quem conseguiria me controlar? Não as cartas e os conselhos de Torella – somente a forte necessidade me visitava na abominável forma de uma bolsa vazia. Mas havia meios de encher esse vácuo. Vendi acre após acre, propriedade após propriedade. Minhas roupas, minhas joias, meus cavalos, e seus jaezes eram quase inigualáveis na resplandecente Paris, enquanto as terras de minha herança passavam para a posse de outros.

O duque de Orleans foi emboscado e assassinado pelo duque de Borgonha. Medo e terror dominaram toda a Paris. O delfim e a rainha se recolheram; todo prazer foi suspenso. Fiquei farto desse estado de coisas, e meu coração ansiava pelos abrigos de minha meninice. Eu era praticamente um mendigo, ainda assim iria lá reclamar minha noiva e reconstruir minha fortuna. Alguns negócios oportunos como mercador me tornariam rico novamente. Contudo, eu não voltaria num humilde disfarce. Meu último ato foi alienar a propriedade que me restava, perto de Albaro, por metade de seu valor, para obter dinheiro de imediato. Então despachei todo tipo de artesão, tapeçarias, mobília de régio esplendor, para suprir a última relíquia de minha herança, o meu palácio em Gênova. Entretanto, me demorei mais um pouco, envergonhado de desempenhar o papel da volta do pródigo, que eu temia que fosse interpretar. Enviei meus cavalos. Despachei para minha prometida um incomparável ginete espanhol; seus jaezes reluziam com joias e tecido dourado. Em cada parte, mandei entrelaçar as iniciais de Juliet e Guido. Meu presente encontrou favorecimento nos olhos dela e de seu pai.

Todavia, voltar e ser proclamado um esbanjador, o símbolo do impertinente prodígio, talvez alvo de zombaria, e enfrentar separadamente a exprobração ou o escárnio de meus concidadãos não era uma perspectiva atraente. Como um escudo entre mim e a censura, convidei alguns dos mais displicentes dos meus companheiros para me acompanhar: assim, fui armado contra o mundo, escondendo um sentimento ressentido, metade medo e metade penitência, pela bravata e uma insolente demonstração de satisfeita vaidade.

Cheguei a Gênova. Percorri o chão de meu palácio ancestral. Meu orgulhoso caminhar não era um intérprete do meu coração, pois sentia profundamente que, embora cercado por todo o luxo, eu era um mendigo. O primeiro passo que dei, ao reclamar Juliet, deve ter me anunciado abertamente como tal. Li desprezo ou piedade no olhar de todos. Imaginei, tão apta é a consciência para imaginar o que ela merece, que ricos e pobres, jovens e velhos, todos me olharam com menosprezo.