Um Inimigo Do Povo
0 INIMIGO DO POVO
de HENRIK IBSEN
Adaptação livre de DOMINGOS DE OLIVEIRA
PERSONAGENS
TOMAS STOCKMAN, Médico das Termas.
CATARINA, Esposa do Doutor Tomas. PETRA, Filha do Dr. Tomas.
PETER STOCKMAN, Prefeito. ALACKSEN, Sócio do Jornal.
HOVSTAD, Sócio do Jornal.
BILING, Jornalista.
CAPITÃO, Amigo da família.
A ação se passa na pacata cidade de MOLENDAL.
NARRADOR
No dia em que nossa estória começa, o clima de Molendal é de euforia. Mais uma ala do estabelecimento termal está sendo inaugurada 53 pelo Prefeito e por seu irmão, Dr. Stockman, o mesmo que há alguns anos descobriu a própria existência das águas medicinais, os altos poderes curativos das águas de Molendal! Desde então Dr. Tomas Stockman, quanto mais não seja por isso, é considerado o maior amigo do povo, posto que nossa cidadezinha transformou-se em um dos mais importantes centros balneários do país, como nenhum dos senhores ignora. Nossos turistas afluem em maior número a cada temporada, o que faz com que o Dr. Stockman e o Prefeito Peter vivam, pela primeira vez, digamos assim, de mãos dadas, apesar das diferenças de personalidade... A verdade é que nosso nível de desemprego caiu quase a zero nos últimos meses... Não há pobres pela rua, ninguém morrendo de fome ou frio, quem não tem seu negocinho está em vias de tê-lo, porque o dinheiro entra regularmente nos cofres públicos e ninguém está descontente com a sua cidadezinha!
CENA 1 | Risos
CATARINA — Então mais um! Mais um estabelecimento!
HOVSTAD — O maior e o melhor de todos, senhora Stockman!
BILING (chegando até ela) — À sua saúde!
ALACKSEN — Nunca em minha vida tomei uma sangria tão bem dosada! Água e vinho nasceram um para o outro.
CATARINA — Depende do vinho e depende da água. (Risos.)
(Prefeito e Stockman tomam o centro.)
PREFEITO — Você gasta dinheiro demais, Tomas, afinal tanta gente para cear...
STOCKMAN — Que melhor jeito de ganhar dinheiro ganho com trabalho, meu irmão, do que receber os amigos? Gosto de gente eu, de casa cheia. (Para Catarina.) Além de que não somos tantos.
CATARINA — Peter acha que não sou uma dona de casa econômica. (Mostrando Stockman.) A culpa é dele.
PREFEITO — Absolutamente, penso apenas que o bom senso é a maior das virtudes.
STOCKMAN — Gosto desta gente de Molendal, Peter. Isso aqui não é nenhuma metrópole, mas há esperança aqui. E onde há esperança há vida. futuro. Coisas enfim que animam um homem para a luta...
HOVSTAD (aproximando-se) — E para o Trabalho. Seu irmão, senhor Prefeito, não se abstém de escrever no "Mensageiro do Povo" quando tem algo a dizer.
PREFEITO — Bem o sei. E de modo algum o censuro por dirigir-se a um público no qual encontra eco. Aliás não tenho motivos de queixa contra o seu jornal, senhor Hovstad.
ALACKSEN — E por que haveria de ter?
PREFEITO — Em nossa cidade reina um belo espírito de união burguesa. Somos todos unidos em torno do mesmo interesse.
HOVSTAD (brindando) — O estabelecimento termal. (Entram Petra e o Capitão.)
PETRA — Boa-noite. Boa-noite a todos. Sr. Alacksen, Sr. Hovstad. Pai, olhe quem eu encontrei na rua e trouxe até aqui. (Mostra o Capitão.)
STOCKMAN — Capitão! Que prazer! Chegou em boa hora, Catarina, prepare a Sangria do Capitão. Petra, também quer uma?
PETRA — Quero, pai, mas deixe que eu preparo.
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