uma ponderação.

ALACKSEN — Sim. Sim?

PREFEITO — O senhor é um homem sensato, Sr. Alacksen...

ALACKSEN — Alegro-me em ouvilo dizer isto...

PREFEITO — E tem certa influência sobre a massa da população.

ALACKSEN (concordando) — Sobre a gente miúda, modestamente, sim senhor.

PREFEITO — Os pequenos contribuintes! Aqui, como em toda a parte, muito numerosos!

ALACKSEN — Correto, Sr. Prefeito.

PREFEITO — Pois que enfào conhece bem as dificuldades financeiras •dessa gente miúda, como o senhor disse.

ALACKSEN (apavorado) — Sim,

claro... mas...

PREFEITO — Neste caso, não creio que tenhamos nenhum problema. Já que existe um espírito comunal de sacrifício tão grande, entre a gente miúda desta cidade.

ALACKSEN — Não compreendi...

HOVSTAD — Espírito de sacrifício?

PREFEITO — Não serão pequenos os sacrifícios que teremos de suportar. As obras sugeridas por meu irmão em seu relatório, segundo um primeiro orçamento, ascendem acerca de 10 milhões de coroas... no relatório que os senhores vão publicar. É bem claro que os sócios do estabelecimento não terão condições de arcar com as despesas por si próprios. A Prefeitura se verá impelida a criar um imposto especial, uma espécie de empréstimo à comunidade, talvez seja esta a fórmula...

HOVSTAD (indignado) — Porém o senhor não pretende que seja exatamente a camada mais desfavorecida da população quem...

ALACKSEN (trêmulo) — O dinheiro teria de sair dos cofres municipais? Do bolso magro dos pequenos?

PREFEITO — Sem dúvida. Não há outra solução. (Silêncio geral.)

ALACKSEN — Bem, neste caso então convém que... seu irmão foi muito precipitado em...

PREFEITO (tirando do bolso um envelope) — Eu redigi uma breve exposição do caso das águas, conforme ele se apresenta na realidade, para quem o encara com o espírito são. Inclusive indico, de modo sumário, como se poderia contornar os possíveis inconvenientes sem ultrapassar os recursos dos quais dispõe o estabelecimento.

HOVSTAD (adiantando-se) — Eu poderia ler?

PREFEITO (entregando) — Leiam... e se desejarem publicar...

BILING (olhando pela porta) — O Doutor Stockman vem aí.

PREFEITO (impaciente e contrafeito) — Não desejo encontrá-lo. E precisamos terminar este assunto...

HOVSTAD (abrindo uma cortina ao fundo) — Bem, se o senhor Prefeito não se incomoda, por favor, entre aqui e espere um momento.

PREFEITO — Está bem, mas vejam se ele não demora.

HOVSTAD — Um instante. (Para Biling e Alacksen.) Finjam que estão trabalhando.

STOCKMAN (entrando) — Já estou de volta. Prontas as provas?

HOVSTAD — Ainda não, doutor. Demorará um pouco.

STOCKMAN (rindo) — ô, desculpem, sei que estão trabalhando o mais depressa que podem... £ que não descanso enquanto não ver a coisa impressa! Para que todos os cidadãos possam ler! Deixo vocês trabalharem. Vou ao hospital e volto em uma hora, duas. (Saindo.) E obrigado, ãh? Mais uma vez... (Entra a Sra. Stockman, em traje de passeio.)

HOVSTAD — Sra. Stockman!

ALACKSEN — Não quer sentar-se?

STOCKMAN — Catarina, o que você veio fazer aqui?

CATARINA — Não me queiram mal, senhores, mas vim buscar meu marido. Os senhores não se esqueçam que ele tem família para cuidar!

STOCKMAN — Você ficou louca, Catarina? Então, pelo fato de um homem ter uma família para cuidar, perde o direito de proclamar a verdade?

CATARINA (baixo, controlando-se) — Há limite pra tudo, Tomas.

ALACKSEN — Comedimento e temperança.

CATARINA (para Hovstad) — E o senhor, eu nunca pensei! Incitando meu marido...

HOVSTAD — Eu lhe garanto, minha senhora, que não estou incitando...

STOCKMAN — E eu sou homem que se incite?

CATARINA — Perdão, meu querido, mas é sim! Sei perfeitamente que você é o homem mais inteligente da cidade, mas que se deixa levar, se deixa! (Para Hovstad, baixo.) Não sabe que ele vai perder o emprego no estabelecimento se o senhor publicar o que ele escreveu?

. STOCKMAN — Volta para casa, Catarina. Vai cuidar de lá que eu cuido de cá. Como você pode estar com tanto medo, me vendo tão satisfeito e confiante? Amanhã no salão dos proprietários... (Vê o boné, a capa e a bengala do Prefeito.) Já vi isso antes, na cabeça do poder.

CATARINA — O boné do Prefeito!

STOCKMAN — Sim, é claro que esteve aqui, Catarina! Veio cá e tentou convencer meus amigos a não publicar meu relatório, como você estava fazendo agora.