Em que lugar que ele veio cair... E quando me viu chegando, escapuliu pela porta dos fundos, deixando os troféus. Não é isso, Alacksen? Hein, Biling? Hovstad? Não, não é isso. Peter não é de fugir assim, a raposa... Deve estar ainda por aqui em algum lugar? Onde é que vocês escondiam ele, hein? (Coloca a capa, o boné, pega a bengala.) Espera, Catarina, para você ver o número. (Abre a cortina. Surge o Prefeito.)
ALACKSEN (um instante antes) — Tome cuidado, doutor...
STOCKMAN — Boa tarde, irmão, que surpresa. Não é má essa tua roupa, tenho dúvidas é se me fica bem.
PREFEITO (rubro de raiva) — Devolve meu boné, minha capa e minha bengala.
STOCKMAN — Ainda não!
PREFEITO — Isso não é coisa com que se brinque. Esse uniforme é protegido pelos regulamentos.
STOCKMAN — Mas se a autoridade agora sou eu...
CATARINA — Tomas! Meu Deus... (Começa a chorar.)
STOCKMAN — Já organizei a reunião amanhã no Salão dos Proprietários e lá a verdade vai ser dita tintim por tintim. Você não vai ter o prazer de me destituir de meu cargo, vou te derrubar, Peter. Porque, para Prefeito, você não tem a menor vocação. Claro que não vou guardar raiva, se você quiser ir jantar hoje de noite em casa, vá que me dá muito prazer. Mas em nome da comunidade eu terei de derrubá-lo. E felizmente não me faltam forças para isso. Tenho a meu lado a maioria dos cidadãos! O jornal da cidade, os pequenos proprietários, à frente dos quais o Sr. Alacksen amanhã marchará...
ALACKSEN (quase num susto) — Não farei semelhante coisa! Eu não farei. (Stockman não entende. Consulta Hovstad e Biling com um olhar.)
PREFEITO — Agora pergunta ao jornal da cidade se prefere colocar-se ao lado da lei ou da agitação.
HOVSTAD — A questão é complexa...
STOCKMAN — Mas o que significa isso?
Hovstad (decidindo colocar-se)
— O senhor não esclareceu certos pontos na questão das águas. Omitiu exatamente... as facetas fundamentais. Em princípio não poderemos apoiá-lo. (Para o Prefeito.) Em princípio.
STOCKMAN — Isto significa que os senhores se recusam a publicar meu relatório?
HOVSTAD — No momento não será possível publicá-lo.
STOCKMAN — Mas como, que conversa é esta? Como não é possível? O senhor não é o diretor do jornal? Que eu saiba são os diretores dos jornais que dirigem os jornais.., -
HOVSTAD — Não. Não são. Quem dirige este jornal são os assinantes.
PREFEITO — Com a graça de Deus.
ALACKSEN — Quem dirige este jornal, meu caro doutor, é a opinião pública. Os proprietários das casas e outros, proprietários de outras coisas. É a maioria, o povo. Se seu artigo fosse publicado seria uma verdadeira ruína para o povo.
PREFEITO — Tomas... minha capa...
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