meu boné... e minha bengala! (Luzes se apagam.)
CENA 6 | Casa de Stockman.
(Stockman discute com sua esposa | Catarina).
STOCKMAN — Pára, Catarina, por piedade... eu preciso pensar!
CATARINA — Mas por que estão todos contra você? Deve ser culpa sua. Não ficam todos contra um homem se ele não provoca! Eu sabia que um dia você ia acabar brigando feio com seu irmão... e Peter é vingativo!
STOCKMAN — Calma, não está tudo perdido, ah, não está não! (Um foco sobre Alacksen. Stockman voi lá.) Sr. Alacksen, queira ter a bondade de imprimir este manuscrito sob minha responsabilidade e à minha custa! Faça uma tiragem de quinhentos, seiscentos... mil exemplares! Quanto poderia custar isso?
ALACKSEN (trêmulo da cabeça aos pés) — Nem por todo o ouro do mundo, doutor, o jornal poderia fazer o serviço, se existisse outra gráfica na cidade, ainda assim...
STOCKMAN —Sr. Alacksen...
ALACKSEN — Seria muito prejudicial para o senhor também, doutor! O senhor também tem família!
CATARINA — Com minha família me preocupo EU!!!
STOCKMAN (voltando a Catarina) — Não é preciso publicar... Eu lerei tudo em voz alta amanhã, em voz alta, no Salão dos Proprietários!!! (Foco sobre Biling e depois, Hovstad.)
BILING — No Salão dos proprietários não, doutor, desculpe. A Associação, em nome da sua Diretoria da qual faço parte, não pode permitir, desculpe. Nós, os pequenos proprietários...
HOVSTAD — Não creio que seja fácil arranjar um outro salão para este mesmo fim.
CATARINA — Mas por que estão todos contra meu marido? Tomas, por quê? (Focos se apagam. Ficam Stockman e Catarina.)
STOCKMAN — Porque não são homens, Catarina! São mulheres! Como você, que só pensam na segurança de suas famílias ao invés de se preocupar com o bem da comunidade. Eles querem calar a minha boca. Parece que não sabem que, se eu não encontrar um local para gritar minhas ideias arranjarei um tambor, para você, um apito para a Petra e iremos de esquina em esquina enquanto eu leio essa coisa!
PETRA (entrando) — Eu vou com você, pai!
CATARINA — Eu vou com vocês! (Pausa.) Sozinho eu não te deixo numa hora dessas! (Luzes se apagam.)
CENA 7 | Dia da Conferência.
CAPITÃO — Dr. Stoclcman Teve grande dificuldade em conseguir local para a sua conferência. O Salão dos Proprietários foi negado, o círculo dos burgueses foi negado. O Clube Campestre, o Teatro Municipal... Stockman não teria conseguido um local de tamanho suficiente, caso o Padre não tivesse finalmente concordado em ceder o adro da igreja. A convocação para o evento foi feita pelas próprias Petra e Catarina, e também por este seu criado, que, boca a boca, pelas ruas, fomos avisando a hora e o local.
(Enquanto o Capitão faz sua narração, é colocada uma mesa no centro do palco, com uma garrafa de água e um copo. Foi instalado atrás uma tela (branca ou vermelha). Entraram alguns atores, que falam por trás do pano, representando o povo.)
CIDADÃO I — Então, você também veio, Lamstad?
MULHER I — Que vai acontecer, aqui?
CIDADÃO II — Não sei, mas vim, é uma reunião popular, e eu compareço a todas as reuniões populares.
CAPITÃO [que olhava aquilo) — Não há dúvida que o clima é de tensão. Nota-se a expressão grave no rosto dos homens, os beliscões das mulheres em seus filhos, a inquietação é generalizada. (Enquanto fala, os outros atores foram para trás do pano e o Capitão vai também. Agora todos funcionam como sombras multiplicadas pelas luzes. O povo.)
CIDADÃO III — É o doutor Stockman que vai fazer um discurso contra o Prefeito.
CIDADÃO IV — Mas como? Eles não são irmãos?
CIDADÃO v — Brigaram. É briga de irmãos.
CIDADÃO VI — Afinal, alguém sabe o que vai acontecer aqui hoje?
CIDADÃO I — O mensageiro já disse que ele não tem razão.
MULHER II — De fato, ele deve estar errado. Não conseguiu alugar nem o círculo da burguesia nem o Salão dos Proprietários!
BILING (detrás dos panos) — Com licença, senhores... Delegado do “Mensageiro do Povo”... obrigado...
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