Alacksen foi eleito por aclamação.

ALACKSEN (levantando) — Muito obrigado. Chamado pela confiança dos concidadãos estou sempre pronto. (Enquanto isso acontece, Biling retira os biombos que fizeram as sombras e cria-se uma situação embaraçosa. A mesa só tem uma cadeira. Stockman dá a cadeira a Alacksen. Biling traz outra para ele, que é posta ao lado.)

ALACKSEN (sentado) — Bem, uma vez que estou neste posto, quero pedir permissão para dizer algumas palavras. (Palmas.) Sou um homem pacífico e tranquilo que preza a moderação refletida e a reflexão moderada. Todos que me conhecem podem atestá-lo.

PREFEITO — Certamente!

ALACKSEN — Aprendi na escola da vida que a temperança é a virtude de maior proveito para o cidadão. Assim sendo peço ao honrado amigo que convocou a reunião desta noite, que se mantenha dentro dos limites das citadas moderação e temperança. Alguém quer a palavra?

(Pausa. Todos se entreolham.)

PREFEITO — Sr. Presidente!

ALACKSEN — Tem a palavra o Prefeito, Stockman.

PREFEITO — Dado o parentesco intimo que me mantém ligado, como todos sabem, ao médico das termas, preferia não fazer uso da palavra esta noite. (Palmas discretas.) Porém... (Levanta.) Como representante oficial dos donos das termas e prefeito de Molendal, sinto-me obrigado a apresentar uma proposta inicial. (Agora, para Stockman.) Levando em conta que nenhum dos cidadãos aqui presentes está interessado na divulgação de certos boatos sem fundamento, ou pelo menos exageradíssimos, quanto ao nível de pureza de nossas águas... proponho que não seja autorizado ao médico Stockman ler ou desenvolver sua exposição científica. Obrigado. (Senta.)

STOCKMAN (perplexo) — Não seja autorizado? Mais essa!

CATARINA (indignada) — Você não tem o direito de propor uma coisa dessas, Peter Stockman...

PETRA — O pai tem o direito de falar!

ALACKSEN — Senhoras, por favor!

PREFEITO (elevando a voz) — No nosso bravo periódico “O Mensageiro do Povo”, já informei o público sobre 05 fatos essenciais da questão. De tal modo que os cidadãos bem pensantes já firmaram sua opinião. O projeto do nosso caro Tomas, conforme já expliquei, além de constituir um voto de desconfiança quanto aos dirigentes do estabelecimento, tende a impor ao contribuinte pesadíssima carga extra de impostos, pelo menos uma dezena de milhões de coroas...

ALACKSEN — Silêncio, senhores! Tomo a liberdade de apoiar a moção do Prefeito. Desculpe, doutor, não posso acompanhá-lo. A música aqui vai sair cara e nem todos somos ricos. Eis o que penso, queira desculpar.

BILING (para a platéia) — Muito bem dito, muito bem. (Bate palmas

educadas.)

HOVSTAD — Também sinto necessidade de explicar publicamente minha atitude. O movimento criado pelo Dr. Stockman contou, no início, com minha simpatia e apoiei-o tão imparcialmente quanto pude. Mas posteriormente verificamos que tínhamos sido induzidos ao erro, que o exposto era falso.

STOCKMAN — Falso!!!

HOVSTAD — Digamos “suspeito”!

ALACKSEN — Estou inteiramente de acordo com o orador.

HOVSTAD — Dr. Stockman, neste caso, tem contra si a vontade geral, portanto, tem contra si o mensageiro do povo. (Palmas.) Embora me doa romper com um homem de quem fui assíduo comensal, um homem nobre, cujo defeito é deixar-se levar pelo exagero, consultando mais o coração que a cabeça. (Petra levanta-se, indignada.)

STOCKMAN — Senta, filha, é incrível, mas eles são assim mesmo.

ALACKSEN — Assim sendo, ponho em votação a proposta do Prefeito.

STOCKMAN (indo sentar-se com a família) — Não, não precisa, não.