mas errado. Temos o dever de elevar o povo à cultura, ao progresso, à liberdade... mas antes, caríssima Petra, é preciso tê-lo conosco, agradá-lo. Conquistá-lo.

PETRA (fechando a questão) — Estranho que um jornal com esse tipo de filosofia possa publicar o relatório de meu pai.

HOVSTAD (embaraçado) — Quanto ao relatório de seu pai ninguém mais que eu deseja publicá-lo, lógico! Seu pai é um homem formidável, de grande coragem, além de, naturalmente, ser seu pai. Meu desejo principal é sempre agradá-la, senhorita Petra.

PETRA (finalmente irritada) — Pois saiba que não está conseguindo. Deve publicar o trabalho de meu pai pelo seu conteúdo, e não por causa de ninguém. [Vai sair.)

HOVSTAD — Petra, eu...!

PETRA — Creio que não temos mais nada para nos dizer, Sr. Hovstad.

HOVSTAD — Não é hora para tanta dureza.

PETRA — Não é hora?

HOVSTAD (arrependido) — Neste momento o senhor seu pai não pode prescindir do meu apoio.

PETRA (depois de um momento)

Que tipo de homem você é? (Petra sai sem esperar resposta. Hovstad pensa em segui-la, desiste. Nota que está diante do jornal. Entra.)

CENA 5 | Redação do jornal "Mensageiro do Povo”.

(Alacksen trabalha. Biling lê, charuto na boca. Hovstad entra.)

HOVSTAD (baixo para Biling) — Leu tudo?

BILING (sem querer que Alacksen ouça) — De ponta a ponta, estou relendo.

HOVSTAD — Ríspido, não lhe parece?

BILING — Esmagador! Cada palavra é...

HOVSTAD — Calma, senão o senhor Temperança se assusta.

BILING — Mas você publicará ele querendo ou não. Ou não? Ele também é sócio do jornal, mas...

HOVSTAD — Meu caro, eu publico de qualquer jeito. Observe a situação curiosa que as revelações do doutor estão prestes a criar... Se o prefeito rejeita o projeto do irmão, ele perde o apoio da Associação dos Proprietários das casas, da pequena burguesia e do resto da população.

Se ele aceita... então se indispõe seriissimamente com seus coleguinhas donos do estabelecimento que terão de desembolsar grosso dinheiro para trocar os canos... de modo que quem sai mal dessa é o Prefeito. (Sério.) Chegou a hora de derrubá-lo, caro Biling, a situação vai virar.

STOCKMAN (entrando) _ Bom-dia, senhores, como vai nosso trabalho?

ALACKSEN — Quase pronto, doutor, isto é, bem adiantado, digamos assim.

STOCKMAN — Ótimo. Então. Hovstad. que diz do meu trabalho?

HOVSTAD — Digo... é uma obra-prima, Sr. Stockman. Não tenho dúvidas em prever que o senhor terá a seu favor todas as pessoas esclarecidas.

ALACKSEN — E todas as pessoas sensatas, não é?

BILING — Sensatas ou insensatas, estão todas com o senhor!

HOVSTAD — O artigo pode ser publicado amanhã?

STOCKMAN — Pode, pode. Não há tempo a perder. Ouça, Sr. Alacksen,

quero que o senhor se encarregue da primeira revisão. Cuide dele como de um tesouro, cada palavra tem importância, e por favor, não suprima um único ponto de exclamação. Se puder ponha mais dois ou três.

BILING — Amanhã estará na rua como uma bomba!

STOCKMAN — Submetido ao julgamento dos cidadãos competentes.