Com licença!

D. LUÍSA - Para fazer o enterro de meu marido! A empresa funerária...

AUGUSTO - Não tenho ações desta empresa; creio mesmo que ainda não foi aprovada. Naturalmente alguma especulação... Passe bem! [Sai].

CENA XI

D. LUÍSA, TEIXEIRA

TEIXEIRA (atravessando a sala) - Hoje não nos querem dar almoço.

D. LUÍSA - Sr. Teixeira!

TEIXEIRA [voltando-se] - Viva, senhora.

D. LUÍSA - Vinha ver se me podia dar alguma coisa!

TEIXEIRA - Já? Pois acabou-se o dinheiro que lhe dei?

D. LUÍSA - O pecurrucho faz muita despesa! É verdade que o Sr. não tem obrigação de carregar com elas! Mas seu amigo, o pai da criança não se importa.

TEIXEIRA - Quem lhe diz que não se importa? Tem família, deve respeitar as leis da sociedade; demais, sabe que eu tomei isto a mim.

D. LUÍSA - Sim, Senhor.

TEIXEIRA - Espere; vou dar-lhe dinheiro.

CENA XII

ERNESTO, D. LUÍSA

ERNESTO [entra sem ver D. LUÍSA] - Oito meses sem vê-la!

D. LUÍSA [adianta-se] - V.Sa. ainda não leu este papel.

ERNESTO [voltando-se] - Já vi a senhora... Sim e por sinal que... Pode guardar o seu papel; sei o que ele contém; uma história de oito filhinhos.

D. LUÍSA - Nus os pobrezinhos, sem ter o que comer.

ERNESTO - Não me logra segunda vez.

D. LUÍSA - Mas V.Sa. talvez precise de uma pessoa...

ERNESTO - Onde mora a senhora?

D. LUÍSA - Rua da Guarda Velha, n.0 175; se o senhor deseja alguma comissão, algum recado... estou pronta.

ERNESTO - Diga-me; se eu lhe mandasse de São Paulo por todos os vapores uma carta para entregar a uma moça, dentro de uma sua, a senhora entregava?

D. LUÍSA - Ora, na carreira; contanto que a carta de dentro viesse com o porte pago. ERNESTO - Há de vir; um bilhete de 5$OOO.

D. LUÍSA - Serve; pode mandar.

ERNESTO - Pois então está dito; deixe-me tomar a sua morada.

D. LUÍSA - Não precisa; leve esse papel.

ERNESTO - E a senhora fica sem ele?

D. LUÍSA - Tenho outro. [Tira do bolso rindo] Essa história de viúva já está muito velha, agora sou mulher de um entrevado

ERNESTO - Que mulher impagável! Isto só se encontra aqui no Rio de Janeiro. Oh! agora! Posso escrever-lhe a Júlia.

[Entra JÚLIA].

CENA XIII

Os mesmos, JÚLIA, depois TEIXEIRA

ERNESTO (a JÚLIA) - Sabe? Estou alegre.

JÚLIA - Por quê?

ERNESTO - Achei uma maneira de escrever-lhe de São Paulo sem que meu tio saiba.

JÚLIA - Oh! não, meu primo! Não posso receber!...

ERNESTO - Mas então quer que passemos oito meses sem ao menos trocar uma palavra.

JÚLIA - Se houvesse outro meio...

ERNESTO - Que melhor do que uma carta inocente?...

JÚLIA - Sem consentimento de meu pai?... Não!

ERNESTO - Então eu falo a meu tio logo de uma vez, e está acabado.