Everett? 

— Teria simplesmente sido mais decente. Poderíamos nos reconciliar. 

— Parece que já fizemos isso. 

— Quero dizer, "formalmente". 

— Isso teria sido absurdo. Não vê o quanto meu instinto dizia a verdade? O que teria sido mais fácil do que o nosso encontro? Posso assegurar a você que qualquer conversa a respeito do passado, com garantias ou desculpas mútuas, teria sido extremamente desagradável. 

A Srta. Everett ergueu os olhos do chão e fixou-os no rapaz com um olhar penetrante no qual havia uma ponta de autocensura. — Então o passado é assim totalmente desagradável? 

Baxter a olhou, com certo espanto. — Meu Deus! Claro que sim. 

A Srta. Everett baixou os olhos e permaneceu calada. 

Poderia muito bem aproveitar esse momento para transmitir brevemente ao leitor os acontecimentos aos quais se refere a conversa acima. A Srta. Everett, considerando todos os aspectos da questão, tinha julgado mais conveniente não contar ao futuro marido a história completa de sua relação com Stephen Baxter; e, quando eu tiver restaurado suas omissões, o leitor provavelmente achará justificada sua discrição. 

Ela havia, como disse, encontrado aquele jovem pela primeira vez em Roma, e lá, depois de duas conversas, produzira-se uma impressão profunda em seu íntimo. Ele sentiu que seria capaz de um grande esforço para encontrar a Srta. Everett novamente. A reunião dos dois na Suíça não foi, por isso, inteiramente casual; e tinha sido mais fácil para Baxter torná-la viável pelo fato de poder alegar uma relação indireta sua com a Sra. Denbigh, que fazia companhia a Marian. Com a permissão dessa dama, ele se associava ao seu grupo. Havia adotado o trajeto das duas como se fosse o seu, tinha parado quando elas pararam e fora pródigo em atenções e amabilidades. Antes que uma semana se tivesse passado, a Sra. Denbigh, que era a própria encarnação de uma índole confiante, vibrou com a descoberta de um parente de valor inestimável. Graças não apenas à sua disposição naturalmente pouco exigente, mas também aos hábitos apáticos e ociosos induzidos pelo constante sofrimento físico, ela provou ser bastante insignificante no papel do terceiro personagem nas horas gastas por seus acompanhantes. Não é preciso um grande esforço para se imaginar de que forma prazerosa aquelas horas foram passadas. Fazer a corte em meio a algumas das mais românticas paisagens da Europa é uma partida meio vencida de antemão. O charme expresso pelas maneiras de Marian foi amplamente realçado pela satisfação com que sua sensibilidade inata para a beleza do mundo natural a preparava para apreciar o magnífico cenário dos Alpes. Ela nunca se expusera em circunstâncias tão favoráveis; nunca tinha desfrutado de uma liberdade tão completa, de tanta franqueza e jovialidade. Pela primeira vez na vida, fizera um prisioneiro sem se dar conta disso. Tinha entregue seu coração às montanhas e aos lagos, às neves eternas e aos vales pastoris, e Baxter, a postos, o interceptara. Aos olhos dele, a viagem à Suíça, há tanto templo planejada, aumentara enormemente em sua dimensão e em seu brilho graças à participação da Srta. Everett — pelo entusiasmo feminino manifestando-se sempre ao alcance do ouvido, com a frescura e clareza de uma fonte que tivesse brotado das montanhas. Ah! Se pelo menos também ela fosse alimentada pelas neves eternas! E a sua beleza — sua incansável beleza — era um motivo permanente de encanto. A Srta. Everett parecia de tal forma pertencer a uma sala de estar que era quase lógico supor que não ficasse bem em qualquer outro lugar. Mas na verdade, como descobriu Baxter, ela ficava muito bem no papel do que as damas consideram um "horror" — ou seja, queimada de sol, marcada pelos esforços de viagem, acalorada, entusiasmada e faminta.