Ficava bem o bastante para desencorajar quaisquer comparações motivadas pela inveja. 

Ao fim de três semanas, certa manhã, enquanto permaneciam juntos à beira de uma cascata que caía de um penhasco, muito acima das profundezas verdes instaladas entre as montanhas, Baxter sentiu um impulso irresistível para se declarar. O trovejar produzido pela cachoeira encobria qualquer emissão vocal, de modo que, sacando de seu bloco de desenhos, escreveu três palavras curtas numa folha em branco. Ele lhe passou o bloco. Ela leu a mensagem enquanto mudava de cor de um modo encantador, lançando para o rosto dele um único e rápido olhar. Ela então rasgou a folha. 

— Não rasgue! — gritou o jovem. Ela compreendeu por meio dos movimentos de seus lábios e balançou a cabeça sorrindo. Mas ela se abaixou, apanhou uma pedra pequenina e, embrulhando-a no pedaço de papel, preparou-se para jogá-la na torrente. 

Baxter, inseguro, esticou a mão para tirá-la de Marian. Ela a passou para a outra mão e lhe deu aquela que ele havia tentado segurar.

Ela jogou fora o papel, mas deixou que continuasse a segurar sua mão. 

Baxter ainda dispunha de uma semana e Marian fez com que ele a passasse em meio a uma grande felicidade. A Sra. Denbigh estava cansada; haviam parado por um momento e estavam permanentemente juntos. Falaram muito sobre o longo futuro, o qual, ao se afastarem do som da catarata, tinham decidido de comum acordo encarar juntos. 

Para infelicidade dos dois, contudo, ambos eram pobres. Em vista das circunstâncias, decidiram nada dizer a respeito do compromisso assumido até que Baxter, à custa de trabalho duro, tivesse pelo menos quadruplicado sua renda. Isso era cruel, porém uma necessidade imperativa, e Marian não fez objeções. O fato de morar na Europa havia ampliado sua concepção a respeito das necessidades materiais de uma mulher bonita, e era muito natural que ela não devesse, imediatamente após essa experiência, correr na direção de um casamento com um artista pobre. Ao fim de alguns dias, Baxter partiu para a Alemanha e a Holanda, onde havia locais que desejava visitar por motivos de estudo. A Sra. Denbigh e sua jovem amiga se dirigiram a Paris, para o inverno. Ali, em meados de fevereiro, ao fim de sua viagem pela Alemanha, Baxter juntou-se a elas. Durante sua ausência, recebera cinco pequenas cartas de Marian, cheias de afeto. O número era pequeno, mas o jovem detectou na própria moderação de sua amada certo sabor delicioso de uma constância implícita. Ela o recebeu com toda a franqueza e ternura que ele tinha o direito de esperar, e ouviu com grande interesse seu relato sobre a melhora de suas perspectivas para o futuro. Vendera três de seus quadros italianos e havia produzido uma coleção de esboços de valor inestimável. Estava a caminho da riqueza e da fama, e não havia motivo para que o noivado de ambos não fosse anunciado. Mas Marian fez uma objeção a essa proposta — de forma tão incisiva, e mesmo por razões tão arbitrárias, que se seguiu uma cena um tanto penosa. Stephen a deixou, irritado e perplexo. No dia seguinte, quando a procurou, ela estava indisposta, alegando não poder vê-lo; e no seguinte — e no outro. Na noite em que tinha feito sua terceira e malsucedida visita à Sra. Denbigh, ouviu o nome de Marian mencionado numa conversa em meio a uma grande festa. As interlocutoras eram duas mulheres já maduras. Concentrando a atenção nas falas das duas, que não se davam ao trabalho de tornar mais discretas, descobriu que sua amada vinha sendo acusada de ter brincado com os sentimentos de um infeliz jovem, o filho único de uma das senhoras.