O artista ainda não havia conseguido dispor de um estúdio próprio, e seu cliente cordialmente ofereceu-lhe em caráter provisório o uso de um espaçoso e bem iluminado aposento em sua casa, destinado a princípio a se tornar uma sala de bilhar, mas que ainda não havia sido preparado para essa finalidade. Lennox não manifestou preferência alguma em relação ao retrato, contentando-se em deixar a escolha da pose e da vestimenta para as partes diretamente interessadas. Descobriu que o pintor se mostrava de acordo com as opções feitas por Marian e ele tinha confiança implícita no bom gosto dela.
A Srta. Everett chegou na manhã combinada, escoltada pelo pai, o Sr. Everett, que se gabava bastante de fazer as coisas da maneira apropriada, providenciando para que fosse previamente apresentado ao pintor. Entre este e Marian, deu-se uma rápida troca de manifestações de cortesia, depois das quais ambos se dedicaram ao trabalho. A Srta. Everett manifestava a mais animada deferência em relação aos desejos e caprichos de Baxter, ao mesmo tempo que não escondia ter fortes convicções a respeito do que deveria ser tentado e do que deveria ser evitado.
O rapaz não ficou surpreso ao descobrir que as convicções dela mostravam bom senso e que os desejos de Marian inspiravam sua total simpatia. Descobriu-se determinado a não ceder diante de preconceitos obstinados e pouco naturais, nem disposto a sacrificar suas melhores intenções a uma vaidade limitada por uma visão acanhada.
A questão de saber se a Srta. Everett era ou não vaidosa não precisa ser abordada aqui. Era pelo menos inteligente o bastante para perceber que os interesses da sagacidade esclarecida seriam mais bem servidos por uma pintura que fosse boa do ponto de vista do artista, na medida em que esse é o principal objetivo do pintor. Posso acrescentar, além disso, para grande crédito seu, que ela compreendeu plenamente quão grande era o mérito artístico atribuído a um quadro executado sob o comando de uma paixão, para que fosse tudo menos uma zombaria, um arremedo — uma paródia — da duração daquela paixão; e que ela sabia instintivamente que não existe nada mais desalentador para o entusiasmo de um artista do que a interferência do interesse pessoal, tanto em seu próprio benefício como no de algum outro.
Baxter trabalhava com firmeza e rapidez, e, ao fim de cerca de duas horas, sentiu que havia começado seu quadro. O Sr. Everett, sentado ao lado, ameaçava tornar-se um motivo de tédio, aparentemente agindo sob a impressão de que era seu dever distrair os participantes da sessão com observações mais do que superficiais a respeito de estética. Mas, de modo bem-humorado, Marian assumia as falas que seriam do pintor nesse diálogo, de modo que este não precisasse desviar a atenção de sua tarefa.
A nova sessão foi marcada para o dia seguinte. Marian usava o vestido que havia sido combinado com o pintor, e no qual o elemento "pitoresco" fora cuidadosamente suprimido. Nos olhos de Baxter, ela lia a impressão de que estava magnificamente linda, e via que os dedos dele mostravam-se irrequietos na ânsia de atacar seu tema. Mas ela pediu que Lennox fosse encontrá-los, sob o pretexto de obter sua concordância em relação ao vestido. Era preto, e talvez ele fizesse objeção a isso. Ele veio, e ela leu em seus olhos gentis uma versão acentuada da aprovação transmitida pelo olhar de Baxter. Mostrou-se entusiasmado a respeito do vestido preto, o qual, na verdade, parecia apenas confirmar e tornar ainda mais bela, como um protesto maternal em voz grave, a impressão de plena juventude por ela transmitida.
— Espero — disse a Baxter — que você produza uma obra-prima.
— Não tenha medo — falou o pintor, dando um tapa na testa. — Já está feita.
Nessa segunda ocasião, o Sr. Everett, exausto pelo esforço intelectual do dia anterior, e encorajado pela cadeira suntuosa, afundou num sono tranquilo. Seus acompanhantes por algum tempo permaneceram em silêncio, ouvindo o ruído regular de sua respiração; Marian, com os olhos pacientemente fixos na parede em frente, e o rapaz alternando mecanicamente a atenção entre sua figura e a tela. Finalmente, recuou alguns passos para avaliar sua obra. Marian voltou o olhar, que acabou por se cruzar com o dele.
— Bem, Srta. Everett — disse o pintor, num tom que poderia parecer trêmulo se ele não tivesse feito um grande esforço para expressar firmeza.
— Bem, Sr. Baxter — respondeu a jovem.
— Bem, Srta. Everett — disse Baxter, voltando ao trabalho —, assim é a vida!
— É o que parece — retrucou Marian. E então, após uma pausa de alguns segundos: — Por que não foi me ver? — acrescentou.
— Fui, mas você não estava em casa.
— Por que não voltou?
— De que adiantaria, Srta.
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