O que tem feito desde que nos separamos? 

— Viajado e trabalhado. Fiz grandes progressos no meu ofício. Pouco antes de voltar para casa, fiquei noivo. 

— Noivo? À la bonne heure. Ela é boa? É bonita? 

— Nem de longe tão bonita como você. 

— Em outras palavras, é uma boa pessoa, infinitamente melhor do que eu. Espero mesmo que seja. Mas por que a deixou para trás? 

— Ela está com uma irmã, uma inválida, que precisa beber água mineral na região do Reno. Elas queriam permanecer lá quando o frio chegasse. Estarão aqui em poucas semanas, e vamos nos casar logo depois. 

— Dou meus parabéns, do fundo do coração — disse Marian. 

— Permita-me fazer o mesmo — falou o Sr. Everett, acordando, o que fazia instintivamente sempre que uma conversa assumia um tom cerimonioso. 

A Srta. Everett só concedeu a seu amigo três outras sessões, sendo grande parte de seu trabalho realizado com a ajuda de fotografias. Também nessas conversas esteve presente o Sr. Everett, e ainda delicadamente sensível às influências soporíferas de sua posição. Mas as duas partes tiveram o bom-senso de se abster de referências às suas antigas relações e de limitar sua conversa a temas pessoais.

II

CERTA TARDE, quando o quadro estava quase pronto, John Lennox entrou na sala vazia onde estava a pintura para verificar o grau dos progressos feitos. Tanto Baxter quanto Marian tinham manifestado o desejo de que ele não deveria ver o quadro em seus estágios iniciais e, em concordância com isso, essa havia sido sua primeira posição. Meia hora depois de sua entrada na sala, Baxter chegou, sem se fazer anunciar, e o encontrou diante da tela, perdido em seus pensamentos. Baxter havia recebido uma chave da casa, de modo a ter acesso fácil e imediato à sua obra sempre que quisesse. 

— Estava de passagem — disse — e não pude resistir ao impulso de vir e corrigir um erro que cometi esta manhã, agora que a noção de sua enormidade ainda está fresca em minha mente. 

Sentou-se para trabalhar e o outro ficou observando-o. 

— Bem — disse o pintor, afinal —, está satisfeito com ele? 

— Não totalmente. 

— Faça o favor de desenvolver suas objeções. Você detém o poder de me ajudar materialmente. 

— Mal sei como formular minhas objeções. Em todo caso, deixe que diga em primeiro lugar que admiro imensamente sua obra. Tenho certeza de que é o melhor quadro que já pintou. 

— Acredito honestamente que seja. Algumas partes dele — disse Baxter, sinceramente — estão excelentes. 

— É evidente. Mas, sejam justamente essas partes, sejam outras, revelam-se singularmente desagradáveis. Esse termo não chega a ser exatamente uma crítica, eu sei; mas estou pagando a você pelo direito de ser arbitrário. São uma realidade muito dura, muito forte ou muito franca. Numa palavra, seu quadro me assusta e, se eu fosse Marian, estaria me sentindo como se você, em certa medida, houvesse praticado uma violência contra mim. 

— Peço desculpas pelo que haja de desagradável, mas minha intenção foi que parecesse real. Vou atrás da realidade; deve ter percebido isso. 

— Aprovo você; não poderia admirar mais os métodos amplos e firmes usados por você para alcançar essa mesma realidade. Mas é possível ser real sem ser brutal, sem tentar ser, como se poderia dizer, objetivo. 

— Nego que eu seja brutal. Temo, Sr. Lennox, que não tenha escolhido o caminho certo para agradá-lo. Encarei este quadro au sérieux demais. Busquei algo completo demais.