Mas, se não agradar ao senhor, agradará a outros. 

— Não tenho dúvida disso. Mas essa não é a questão. O quadro é bom o suficiente para ficar mil vezes melhor. 

— Que o quadro é passível de um aprimoramento infinito, isso, é claro, não nego; e, em vários aspectos particulares, acho que serei capaz de melhorá-lo. Mas a essência do retrato está aí. Vou dizer aquilo de que está sentindo falta. Minha obra não é "clássica"; resumindo, não sou um gênio. 

— Não é isso; suspeito mesmo que seja. Mas, como diz, sua obra não é clássica. Insisto no meu termo "brutal". Será que devo dizê-lo? Parece demais com um estudo. Você deu à pobre Srta. Everett a aparência de uma modelo profissional. 

— Se esse é o caso, cometi um grande erro. Nunca houve uma modelo mais à vontade e mais natural. É um prazer olhar para ela. 

— Está tornando as coisas mais confusas, você a retratou de forma bem natural. Bem, não sei qual é o problema. Desisto.

— Acho — disse Baxter — que deve manter seu veredicto em suspenso até que a pintura seja terminada. O elemento clássico está ali, estou certo disso; mas ainda não o trouxe à tona. Espere mais alguns dias e virá à superfície. 

Lennox deixou o artista a sós; ele pegou os pincéis e trabalhou duro até o anoitecer. Só os pôs de lado quando ficou escuro demais para enxergar. Ao sair, Lennox o encontrou no saguão. 

Exegi monumentum — disse Baxter — está terminado. Vá lá e olhe à vontade. Voltarei amanhã para ouvir suas impressões. 

O dono da casa, assim que o outro saiu, acendeu meia dúzia de luzes e voltou ao estúdio onde se encontrava a pintura. Havia avançado prodigiosamente sob os cuidados que o pintor acabara de lhe conceder, e, fosse porque o elemento clássico se houvesse manifestado, fosse porque Lennox estivesse numa disposição de espírito mais simpática, agora o quadro lhe parecia uma obra de grande originalidade e força, um autêntico retrato, a imagem deliberada de uma figura e de um rosto humanos. Era Marian, de verdade, e Marian medida e observada pacientemente. Sua beleza estava lá, bem como sua ternura e seu encanto jovial e sua graça etérea, capturados para sempre, tornados invioláveis e perpétuos. Nada poderia ser mais simples do que a concepção e a composição do quadro. A figura jazia de modo tranquilo, olhando ligeiramente para a direita, com a cabeça ereta e as mãos — mãos virginais, sem anéis ou braceletes — descansando ociosas sobre os joelhos. O cabelo loiro estava reunido num pequeno nó feito de tranças no alto da cabeça (seguindo a moda da época), e deixava livre o contorno quase infantil das orelhas e das faces. Os olhos eram cheios de cor, contentamento e luz; os lábios, delicadamente separados. Quanto às cores, estritamente falando, havia poucas delas no quadro; porém, os drapejados sombrios insinuavam os reflexos da luz do sol, e as áreas da pele, com seus rubores e trechos pálidos, sugeriam algo do pulsar de vida e de saúde. A obra tinha força e simplicidade, a figura era inteiramente desprovida de afetação e de rigidez, e ainda assim supremamente elegante. 

— Isso é ser um artista — pensou Lennox.