— Tudo feito nas últimas duas horas. 

Era a sua Marian, com toda certeza, com tudo o que o havia encantado — com tudo que ainda o encantava quando a via: sua confiança cativante, sua leveza delicada, suas graças femininas. E com tudo isso, à medida que olhava, uma expressão dolorosa brotou em seus olhos, e lá permaneceu, e cresceu até assumir um peso mortal. 

Lennox vinha sendo um amante na máxima medida em que um homem pode ser; mas amava com a discrição adquirida nos 15 anos em que havia lidado com relacionamentos humanos. Tinha um olhar penetrante, e gostava de usá-lo. Em muitas ocasiões em que Marian, com olhos e lábios eloquentes, havia despejado os tesouros de sua natureza no seu íntimo, e os segurara com as mãos e coberto de beijos e de promessas apaixonadas, ele os tinha largado de repente com um súbito estremecimento e exclamado em silêncio: — Mas, ah, onde está o coração? Um dia ele lhe havia dito (num gesto irrelevante, sem dúvida): — Marian, onde está seu coração? 

— Onde... o que quer dizer? — indagara a Srta. Everett. 

— Penso em você de manhã à noite. Junto seus pedaços e depois os separo, como as pessoas fazem nesse jogo em que se formam palavras a partir de uma caixa com algumas letras. Mas sempre há uma letra faltando. Não consigo pôr minha mão no seu coração. 

— Meu coração, John — disse Marian, engenhosamente —, é a palavra inteira. Meu coração está em toda parte. 

Isso, sem dúvida, pode ter sido a verdade. A Srta. Everett havia distribuído seu coração de modo imparcial por todo o organismo, de modo que — era uma consequência natural — sua localização original estava parcialmente vazia. Ao se sentar e olhar para a obra de Baxter, a mesma pergunta veio novamente aos seus lábios; e, se o retrato de Marian a sugeriu, o retrato de Marian era incapaz de responder. Para responder a isso, seria necessária a presença da própria Marian. A Lennox, parecia que alguma entidade estranhamente poderosa havia arrancado de sua amada a confissão extraída do mais íntimo da alma dela, e a escrevera sobre aquela tela em linhas firmes, porém arrebatadas. A pessoa de Marian era toda leveza — seu encanto consistia na leveza; seria possível que sua alma consistisse também em leviandade? Seria ela uma criatura sem fé e sem consciência? O que mais poderia significar aquele terrível vazio, aquele elemento de morte que extinguia a luz em seus olhos e roubava o sorriso de seus lábios? Essas coisas não podiam ser evitadas até porque o pintor, em tantos aspectos, havia sido justo. Fora tão leal e simpático quanto inteligente. Nenhum item na aparência da jovem havia sido menosprezado; nenhuma de suas feições deixara de ser eficaz e delicadamente representada. Baxter se teria revelado um homem de maravilhosa sensibilidade — um observador ímpar; ou se limitara a ser apenas um pintor paciente e obstinado, realizando infinitamente mais do que supunha? Um simples pintor não se contentaria em pintar a Srta. Everett de maneira vívida, exuberante e objetiva de que a obra em questão era um tão bom exemplo e em fazer apenas isso? Pois era evidente que Baxter fizera mais do que isso. Havia pintado com algo mais que o mero saber — com imaginação, com sentimento. Tinha quase composto algo — e sua composição abraçara a verdade. Lennox era incapaz de responder às suas dúvidas. Teria ficado feliz em acreditar que não havia imaginação alguma no quadro a não ser aquela proporcionada pela sua própria mente; e que a etérea ternura nos olhos e lábios da imagem nada mais era do que o sorriso da juventude e da inocência. Estava em dificuldades — mostrava-se absurdamente desconfiado e volúvel; apagou as luzes e deixou o retrato mergulhado numa agradável penumbra. Então, em parte como uma reparação à sua amada e, em parte, para satisfazer a si mesmo, foi passar uma hora com Marian. Pelo menos ela, como veio a descobrir, não havia hesitado. Considerava o retrato um completo sucesso, e mostrava-se disposta a ser transmitida dessa forma à posteridade. Contudo, quando Lennox retornou, voltou à sala onde estava a pintura para olhá-la mais uma vez. Dessa vez, acendeu uma única luz.