Arre! Era pior do que com uma dúzia. Desligou às pressas o gás. 

Baxter veio no dia seguinte, como havia prometido. Nesse meio tempo o pobre Lennox tinha passado por doze horas ininterruptas de reflexão, e a expressão de desconsolo em seus olhos havia adquirido uma intensidade que, percebia o pintor, revelava outro motivo muito diferente do que um simples tributo ao seu poder. 

"Será possível que o homem esteja com ciúme?", pensou Baxter. Stephen havia conservado uma inocência tão grande a respeito de qualquer outro objetivo que não fosse pintar um bom retrato que sua consciência não conseguiu revelar a fonte da angústia de seu interlocutor. Entretanto, começou a sentir pena dele. Realmente ficara tentado a sentir pena desde o início. Gostara dele e o tinha em alta estima; havia-o julgado um homem de inteligência e de sentimento, e via com pesar que um homem como ele — uma criatura de intensas necessidades espirituais — tivesse de associar seu destino ao de Marian Everett. Mas logo chegara à conclusão de que Lennox sabia muito bem onde pisava, e que não precisava de nenhum esclarecimento. Estava se casando com os olhos bem abertos, e havia pesado os prós e os contras da questão. Cada qual tinha seus gostos e, aos 35 anos, John Lennox não precisava que lhe dissessem que a Srta. Everett não era exatamente o que parecia ser. Baxter, portanto, partia do princípio de que seu amigo deliberadamente selecionara para ser sua segunda esposa uma mera mulher bonita — uma mulher com talento para cativar uma companhia e que faria uso criativo de seu dinheiro. Não sabia nada a respeito da seriedade da paixão nutrida pelo pobre homem, nem da medida em que a felicidade dele estava ligada ao que o pintor teria chamado de sua ilusão. Sua única preocupação fora a de fazer bem seu trabalho; e fizera-o melhor ainda por causa de seu antigo interesse pelo rosto sedutor de Marian. É certo que tinha efetivamente injetado em seu quadro essa força de caracterização e essa profundidade de realidade que havia captado a atenção de seu amigo; mas fizera isso sem esforço e sem malícia. A metade artística da natureza de Baxter exerceu um saudável domínio sobre a metade humana — alimentada por suas decepções e engordada por suas alegrias e adversidades. Isso, na realidade, significa simplesmente dizer que o jovem era um verdadeiro artista. Então, nas profundezas insondáveis de sua natureza forte e sensível, seu espírito se mantivera em comunhão com seu coração e transferira para a tela o fardo de seu desencanto e de sua resignação. Desde seu pequeno caso com Marian, Baxter havia conhecido uma jovem que acreditava poder amar e confiar para sempre; e, como se tornara sóbrio e fortalecido por essa nova emoção, fora capaz de recapitular com maior nitidez as limitações do seu amor anterior. Tinha, portanto, pintado com sentimento. Dele, a Srta. Everett não poderia ter esperado que agisse de outro modo. Havia honestamente dado o melhor de si, e a convicção viera a despeito dele e terminando por tornar a obra ainda melhor. 

Lennox havia começado a sentir muita curiosidade a respeito da história de como o jovem tinha travado conhecimento com sua futura noiva; mas estava longe de sentir ciúme. Percebia, de algum modo, que jamais poderia voltar a sentir ciúmes. Porém, ao examinar os termos do antigo relacionamento entre os dois, era importante não permitir que o jovem suspeitasse de que tivesse descoberto no retrato algum grave defeito.

— Seu antigo conhecimento com a Srta. Everett — disse, com franqueza — lhe foi evidentemente de grande utilidade.

— Suponho que sim — concordou Baxter. — Realmente, assim que comecei a pintar, vi seu rosto voltando, como uma antiga canção já meio esquecida. Naquela época, era incrivelmente bonita.

— Era dois anos mais nova. 

— Sim, e eu era dois anos mais novo. Decididamente, você está certo. Fiz mesmo uso das minhas antigas impressões. 

Baxter estava disposto a levar até este ponto suas confissões; mas sentia-se determinado a não revelar nada que a própria Marian tivesse mantido em segredo.