Meu caro, como poderia se impedir de fazer isso? O desapontamento foi proporcional à perda e à reação ao desapontamento.
— Sim, tudo isso pode ter sido assim; mas, enquanto isso, continuo esperando em vão saber onde errei.
Lennox olhou de Baxter para o quadro e do quadro de volta para Baxter.
— Eu o desafio a me dizer — disse Baxter. — Simplesmente fiz com que a Srta. Everett parecesse tão encantadora quanto na vida real.
— Oh, para o inferno com os encantos dela! — gritou Lennox. — Se o senhor não fosse o cavalheiro — continuou Baxter — que, a despeito do seu temperamento exaltado, sei que é, acreditaria, seria levado a acreditar...
— Bem, seria levado a acreditar...
— Acreditar que o senhor está simplesmente inclinado a baixar o preço do retrato.
Lennox fez um gesto de veemente impaciência. O outro explodiu numa gargalhada e a discussão terminou.
Instintivamente, Baxter pegou os pincéis e se aproximou da tela com o vago desejo de detectar erros latentes, enquanto Lennox se preparava para partir.
— Fique! — disse o pintor, quando o outro já deixava o aposento. — Se o quadro realmente o ofende, eu vou apagá-lo. Basta mandar — e apanhou um pincel grosseiro encharcado de tinta preta.
Mas Lennox balançou a cabeça de modo decidido e saiu. No momento seguinte, contudo, reapareceu.
— Você pode até apagá-lo — disse. — Mas o quadro, é claro, já é meu.
Mas agora Baxter balançava a cabeça. — Ah! Agora é tarde demais — respondeu. — Deixou escapar sua chance.
Lennox partiu diretamente para os aposentos da Srta. Everett. Marian estava na sala com algumas visitas matinais e seu noivo esperou sentado até que se livrasse delas. Quando ficaram a sós, Marian começou a rir das visitas e a imitá-las, parodiando alguns de seus trejeitos, o que fazia com infinitos encanto e graça. Mas Lennox a interrompeu e voltou ao assunto do retrato. Havia revisto as objeções da noite anterior; agora as aprovava.
— Mas imagino, Marian — disse —, que agora você deseja procurar o Sr. Baxter.
— E por quê? — perguntou Marian, desconfiada. Percebia que seu amante tinha conhecimento de algo, e estava decidida a não se comprometer até que soubesse o quanto exatamente sabia.
— Um antigo amante é sempre perigoso.
— Um antigo amante? — e Marian ficou ruborizada de modo sincero. Mas rapidamente recuperou a segurança. — Diga-me, por Deus, onde obteve esta notícia encantadora?
— Ah, ela veio à tona — disse Lennox.
Marian hesitou por um instante. E então, com um sorriso: — Bem, eu fui corajosa — ela disse. — Fui procurá-lo.
— E como — prosseguiu Lennox — você não me contou?
— Contar o que, meu querido John?
— Ora, sobre a pequena paixão de Baxter. Vamos, não seja modesta.
Modesta! Marian respirou aliviada.
— O que pretende, querido, dizendo a sua esposa para não ser modesta? Por favor, não me pergunte nada a respeito das paixões do Sr. Baxter. O que posso saber delas?
— Não sabia nada a respeito?
— Ah, meu querido, sei até demais para a minha tranquilidade. Mas ele superou bravamente tudo isso. Está noivo.
— Noivo, mas não totalmente indisponível. É um bom sujeito, mas se lembra do seu penchant. Foi a maneira que encontrou de evitar que seu quadro acabasse ficando sentimental. Viu você do modo como a fantasiava, do jeito que ele a queria; e lhe conferiu certa expressão do que imagina ser um encanto moral, o que por um triz não veio a estragar o quadro.
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