A outra, a irmã desta, era uma mulher inexpressiva e pálida, com aparência doentia, para quem haviam providenciado uma cadeira e que não fez menção de falar. Baxter explicou que as duas senhoras haviam chegado da Europa no dia anterior, e que sua primeira preocupação havia sido a de lhes mostrar sua obra-prima.
— Sara — disse ele — estava elogiando muito o modelo em detrimento da cópia.
Sara era uma jovem de 20 anos, alta, de cabelos negros, com feições irregulares, um par de olhos escuros brilhantes e um sorriso radiante com seus dentes brancos — era, visivelmente, uma excelente pessoa. Ela se voltou para Lennox com uma expressão de sincera simpatia e disse numa voz profunda, rica em suas modulações:
— Ela deve ser muito bonita.
— Sim, ela é muito bonita — concordou Lennox, com os olhos fixos no rosto agradável da própria interlocutora. — Precisa conhecê-la, ela precisa conhecer você.
— É claro que teria muito prazer em vê-la — disse Sara.
— Isso é quase tão bom quanto o original — afirmou Lennox.
— O Sr. Baxter é um gênio.
— Sei que o Sr. Baxter é um gênio. Mas o que é um quadro, afinal de contas? Nos últimos dois anos, não vi nada a não ser quadros, e não vi uma única menina bonita.
A jovem ficou olhando o retrato com admiração evidente e, enquanto Baxter se dirigia à mulher mais velha, Lennox examinou longa e discretamente sua noiva. Ela havia colocado a cabeça numa posição quase justaposta à imagem de Marian e, durante o momento seguinte, a jovialidade e a animação que afloraram à fisionomia dela pareceram ofuscar as linhas e as cores da tela. Mas no momento seguinte, enquanto Lennox olhava, o círculo brilhante do rosto de Marian se iluminou de um modo implacável e seus olhos azuis indiferentes o olharam com a familiaridade cínica que os caracterizava. Despediu-se com um abrupto bom dia e avançou na direção da porta. Mas, ao lado dela, ele se deteve. Minha última duquesa, o quadro de Baxter, estava suspenso na parede.
Parou espantado.
Era aquele o rosto e a figura que, há um mês, tinham lhe lembrado sua amada? Onde estava a semelhança agora? Parecia totalmente ausente, como se nunca tivesse existido. O quadro, além disso, era bem inferior ao novo retrato. Olhou para trás na direção de Baxter, quase tentado a pedir uma explicação, ou pelo menos a expressar sua perplexidade. Mas Baxter e sua noiva se haviam abaixado para admirar um pequeno estudo exposto junto ao chão, com suas cabeças numa deliciosa proximidade.
Difícil dizer de que forma a semana se passou. Houve momentos em que Lennox sentiu que a morte era preferível à união sem amor que agora o olhava de frente, e como se a única atitude possível fosse transferir sua propriedade para Marian e pôr um fim à sua existência. Houve outros em que se reconciliou com seu destino. Só lhe restava amarrar num feixe seus antigos sonhos e fantasias e quebrá-los contra o joelho, e pronto, a coisa estaria feita. Será que não poderia juntar em seu lugar um punhado conveniente de expectativas moderadas e racionais e reuni-las de modo a associá-las à iniciativa do casamento? Seu amor estava morto; sua juventude estava morta; e isso era tudo. Não havia por que fazer disso uma tragédia. A vitalidade do seu amor não se revelara muito grande e, já que estava destinada a ter vida curta, era melhor que expirasse antes do casamento, e não depois. Quanto ao casamento, deveria resistir, já que não se tratava necessariamente de uma questão de amor. Faltava-lhe a coerência brutal necessária para privar Marian de seu futuro. Se havia se enganado a seu respeito e a superestimado, o erro fora seu, e seria errado que ela tivesse de pagar por isso. Fossem quais fossem suas limitações, eram profundamente involuntárias, e estava claro que, em relação a ele mesmo, as intenções dela eram boas. Não seria uma companhia, mas pelo menos seria uma esposa fiel.
Com a ajuda dessa lógica impiedosa, Lennox chegou à véspera do dia de seu casamento. Sua atitude em relação à Srta. Everett na semana precedente tinha sido persistentemente terna e gentil. Sentia que, ao perder seu amor, havia perdido também um tesouro opressivo, e ofereceu a ela, em seu lugar, a mais inabalável devoção. Marian o questionara sobre seu abatimento e sua expressão preocupada, e ele tinha respondido que não estava muito bem.
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