Lennox era viúvo, sem filhos e dono de um patrimônio respeitável. Aos 35 anos, dispunha de uma aparência suficientemente distinta, de ótima educação, de uma quantidade incomum de informações abalizadas, de hábitos irrepreensíveis e de um temperamento que — acreditava-se — havia sido submetido a uma provação penosa e salutar no curto período de sua vida de casado. Portanto, levando tudo isso em conta, julgava-se que a Srta. Everett havia sido muito feliz nessa associação, estando longe de ser a parte que levara a pior nesse arranjo. Mas também a Srta. Everett era uma jovem altamente desejável na condição de noiva — a bonita Srta. Everett, como a chamavam, para distingui-la de certas primas insípidas, com as quais, devido ao fato de não ter mãe nem irmãs, era obrigada, em nome do decoro, a passar grande parte de seu tempo — mais para sua própria satisfação, pode-se conjecturar, do que para a daquelas excelentes jovens.
Marian Everett, na realidade, não tinha um centavo; porém, fora contemplada generosamente com todas as qualidades que tornam urda mulher encantadora. Era, sem contestação, a mais encantadora jovem no interior do círculo no qual vivia e se deslocava. Mesmo algumas mulheres mais maduras que ela, de maior experiência e, em certa medida, de maior valor e — pelo fato de serem casadas — de maior liberdade de ação, mesmo essas não eram efetivamente tão encantadoras. E, ainda assim, comparando suas maneiras às daquelas, suas colegas dotadas de maior autoridade, a Srta. Everett não poderia ser acusada de qualquer desvio em relação à linha estrita que ditava a dignidade de qualquer donzela. Ela professava uma devoção quase religiosa ao bom gosto e via com horror os modos espalhafatosos de muitas das que lhe faziam companhia. Além de Ser a jovem mais interessante de Nova York, era também, por isso mesmo, a mais irrepreensível. Sua beleza poderia, talvez, ser contestável, mas certamente era incontestada. Faltava muito pouco para que pudesse ser considerada de altura mediana e sua figura era marcada por um contorno de formas plenas e arredondadas; e, ainda assim, a despeito dessa graciosa compleição robusta, seus movimentos expressavam leveza e elasticidade. Quanto à aparência, era uma autêntica loira — uma loira cálida; com algo do viço do verão em suas faces, e com o cabelo castanho-avermelhado marcado pela luz do sol. As feições não haviam sido formadas segundo um molde clássico, mas sua expressão era agradável ao extremo. A testa era estreita e ampla, o nariz, pequeno, e a boca — bem, as invejosas a classificavam de enorme. É verdade que detinha uma imensa capacidade para produzir sorrisos, e que, quando a abria para cantar (o que fazia com infinita suavidade), emitia um fluxo abundante de sons. Seu rosto talvez fosse um pouco circular demais, e seus ombros um pouco altos demais; no entanto, como disse, o efeito geral não deixava nada a desejar. Poderia chamar a atenção para algumas dissonâncias na composição de seu rosto e de seu corpo, mas, ainda assim, elas não chegariam de forma alguma a invalidar a impressão que produziam. Há algo de essencialmente indelicado, e, realmente, insensato na tentativa de averiguar ou pôr à prova — em seus mínimos detalhes — a beleza de uma mulher, e um homem acabará por obter o que merece ao descobrir que, a rigor, a soma das diferentes qualidades não equivale ao total dos efeitos. Afastem-se, cavalheiros, e deixem que ela mesma efetue a adição.
A Srta. Everett, além de sua beleza, brilhava também por sua boa índole e pelo vigor de sua sagacidade. Ela não emitia pronunciamentos rudes, nem se mostrava melindrada diante deles; por outro lado, extraía um visível prazer da destreza intelectual, e até mesmo a cultivava. Seu grande mérito era o de nada se gabar ou manifestar pretensões. Da mesma forma que nada havia de artificial em sua beleza, não havia nada de pedante em sua argúcia e nada de sentimental em sua afabilidade. Uma era só naturalidade e a outra, só bonomia. John Lennox a viu, sentiu amor por ela e pediu sua mão. Ao aceitar o pedido, a Srta.
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