O cavalheiro informou-o de que se encontrava provisoriamente compartilhando o estúdio com o Sr. Gilbert, e que este saíra por alguns minutos. Em vista disso, Lennox preparou-se para esperar pela sua volta. Começou a conversar com o jovem e, julgando-o muito inteligente, assim como, aparentemente, um amigo próximo de Gilbert, observou-o com algum interesse. Tinha pouco menos de 30 anos, era alto e robusto, com um rosto expressivo, jovial e sensível, e uma barba castanho-avermelhada. Lennox ficou impressionado com seu rosto, que parecia expressar a um só tempo uma razoável sagacidade humana e a essência do temperamento de um pintor. "Um homem com um rosto como este", disse para si mesmo, "faz com que seu trabalho pelo menos mereça ser olhado." Consequentemente, perguntou-lhe se poderia aproximar-se e olhar seu quadro. O outro rapidamente consentiu, e Lennox colocou-se diante da tela. Ela exibia uma figura feminina representada da cintura para cima, trajando um vestido e com uma expressão tão ambígua que Lennox ficou sem saber se era um retrato ou uma obra de sua imaginação: uma jovem de cabelos loiros, envolta numa exuberante vestimenta medieval e parecendo uma condessa da era renascentista. Sua figura era retratada tendo uma tapeçaria sombria como pano de fundo, os braços cruzados de maneira relaxada, a cabeça ereta e os olhos fixados no espectador, na direção do qual ela parecia mover-se... dans un flot de velours trainant ses petits pieds".1

Ao examinar o rosto da jovem, Lennox pareceu perceber uma semelhança oculta com um rosto bastante conhecido dele — o de Marian Everett. Obviamente, mostrou-se ansioso para saber se a semelhança era acidental ou deliberada. 

— Considero este quadro um retrato — disse ao artista —, o retrato "de um temperamento". 

— Não — disse este último —, é uma mera composição: um pouco dali, outro tanto de lá. Este quadro vem me perseguindo pelos últimos dois ou três anos, uma espécie de receptáculo de ideias desperdiçadas. Foi vítima de inúmeras teorias e experiências. Mas parece haver sobrevivido a todas elas. Suponho que detenha certa vitalidade. 

— Tem algum tipo de título?

— O título que dei a princípio veio de algo que li: o poema de Browning, "Minha última duquesa". Conhece? 

— Perfeitamente. 

— Ignoro se é uma tentativa de dar forma a uma impressão do poeta a respeito de um retrato já existente. Mas por que deveria me importar? Esta é simplesmente minha tentativa de dar forma à minha própria impressão pessoal a respeito do poema, que sempre exerceu forte efeito sobre minha imaginação. Não sei se coincide com sua impressão ou com a da maioria dos leitores. Mas não faço questão de insistir num título. O proprietário do quadro é livre para batizá-lo como quiser. 

Quanto mais Lennox olhava para o quadro, mais gostava dele, e mais marcante parecia tornar-se a correspondência entre a expressão da dama e aquela atribuída à heroína dos versos de Browning. Parecia também menos acidental o elemento que o rosto de Marian e aquele da tela tinham em comum. Pensou no nobre poema lírico do grande poeta e em seu sentido primoroso, e no fato de a fisionomia da mulher que amava ter sido escolhida como a mais apropriada para aquele significado. Virou a cabeça; seus olhos se encheram de lágrimas. 

— Se fosse o dono deste quadro — disse, finalmente, respondendo às últimas palavras do pintor —, ficaria tentado a chamá-lo pelo nome de uma pessoa de quem ele me fez lembrar. 

— Sim? — disse Baxter. E, então, depois de uma pausa: — Uma pessoa em Nova York? 

Uma semana antes ocorrera que, a pedido de seu noivo, a Srta. Everett o havia acompanhado até o estúdio de um fotógrafo e tinha sido retratada numa dúzia de poses diferentes. As provas dessas fotografias foram enviadas a Marian para que escolhesse. Ela havia escolhido meia dúzia delas — ou melhor, Lennox fizera isso — e as tinha guardado no bolso com a intenção de parar no estabelecimento e fazer a encomenda. Então tirou-as da carteira e mostrou uma delas ao pintor. 

— Vejo uma grande semelhança — disse — entre sua duquesa e esta jovem. 

O artista olhou a fotografia. — Se não me engano — disse, depois de uma pausa —, esta jovem é a Srta.