Isso é tudo que consigo ver.
Lennox sentiu-se um tanto aliviado. Não foi sem uma sensação de constrangimento — sentimento de modo algum contraditório com o primeiro momento de orgulho e satisfação — que se deu conta de que os encantos individuais e peculiares de Marian foram submetidos à apreciação cuidadosa de alguém mais além dele. Estava feliz por concluir que o pintor havia simplesmente se deixado impressionar pelo que existia de mais superficial em sua aparência, e que a própria imaginação dele contribuíra com o restante. Enquanto caminhava de volta para casa, ocorreu-lhe que, de sua parte, não seria um tributo inadequado aos encantos da jovem providenciar para que seu retrato fosse pintado por aquele rapaz inteligente. Até aquele momento, o compromisso entre ambos se mantivera na esfera do simples sentimento, e ele se dera ao cuidado meticuloso de não assumir a aparência vulgar de um mero fornecedor de luxos e prazeres. Para todos os efeitos práticos, até então se comportara em relação à futura esposa como um homem pobre — ou melhor, um homem, pura e simplesmente, e não um milionário. Havia passeado com ela, havia lhe mandado flores e tinha ido com ela à ópera. Mas não lhe enviara doces, nem a levara com ele às apostas ou lhe comprara joias. As amigas da Srta. Everett haviam observado que ele, até então, não dera sequer um mínimo anel de noivado, nem pérolas ou diamantes. Marian, contudo, estava bastante satisfeita. Era, por natureza, uma grande artista quando se tratava da mise-en-scene das emoções, e sentia, por instinto, que aquela moderação clássica não passava do pressentimento invertido de uma imensa abundância matrimonial. Em seu esforço para tornar impossível que suas relações com a Srta. Everett fossem maculadas em qualquer medida pela condição acidental do patrimônio de qualquer das partes, Lennox havia compreendido plenamente o próprio instinto. Sabia que, algum dia, viria a sentir um impulso forte e irresistível de oferecer à sua amada um símbolo visível e artístico de sua afeição, e que esse presente proporcionaria uma satisfação maior na medida em que fosse algo único no gênero. Parecia a ele que sua chance havia chegado. Que presente poderia ser mais delicado do que a oportunidade de ela contribuir com sua paciência e boa vontade para que seu marido possuísse uma imagem à semelhança de seu rosto?
Naquela mesma noite, Lennox jantou com seu futuro sogro, como costumava fazer uma vez por semana.
— Marian — disse ele, durante o jantar —, esta manhã vi um velho amigo seu.
— Ah — disse Marian. — E quem ele seria?
— O Sr. Baxter, o pintor.
Marian mudou de cor — muito ligeiramente; não mais do que seria natural diante de uma sincera surpresa. Sua surpresa, contudo, não poderia ter sido grande, visto que, dizia ela agora, vira sua volta à América mencionada num jornal, e na medida em que sabia que Lennox frequentava a sociedade de artistas.
— Ele está bem, espero — ela acrescentou —, e está próspero.
— Onde conheceu esse cavalheiro, minha querida? — perguntou o Sr. Everett.
— Eu o conheci na Europa há dois anos — primeiro durante o verão, na Suíça, e em seguida em Paris. É uma espécie de primo da Sra. Denbigh. A Sra. Denbigh era uma dama em cuja companhia Marian havia recentemente passado um ano na Europa — uma viúva rica, sem filhos, inválida, e uma velha amiga de sua mãe. — Continua pintando?
— Aparentemente sim, e muitíssimo bem. Tem dois ou três quadros tão bons quanto seria possível esperar. E, além disso, tem uma pintura que me fez lembrar de você.
— Sua Última duquesa? — perguntou Marian com alguma curiosidade. — Gostaria de vê-la. Se acha que se parece comigo, John, deveria comprá-la.
— Queria comprar, mas já foi vendida.
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